Mulheres ampliam presença e conquistam espaços de destaque na Engenharia

Quando Evelyna Bloem Souto escolheu se graduar engenheira civil na Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo (EESC-USP), em 1957, sabia o tamanho do desafio que enfrentaria. Ela era a única mulher daquela turma inaugural do curso. O fato de, naquela época, essa área de atuação ser basicamente masculina não a fez desistir de seguir os passos do pai, o engenheiro Theodoreto de Arruda Souto, então diretor da unidade de São Carlos.

O desafio de uma mulher atuar como engenheira foi sentido na pele por Evelyna. Durante uma atividade executada em uma bolsa que havia conseguido em Paris, no início dos anos 60, ela precisou se vestir de homem, prender o cabelo, colocar galochas e até desenhar barba e bigode no rosto para passar despercebida com os demais alunos do grupo e acompanhar a visita ao túnel em construção que ligaria França à Itália. A presença feminina na engenharia era tão rara, de modo que chocava tanto quem atuava quanto quem demandava esse tipo de profissional.

Com atuação destacada na engenharia, Evelyna conseguiu superar os obstáculos e se consolidar na área, inclusive transformando-se num personagem muito expressivo na EESC, onde também dedicou muitos anos à docência. Faleceu em 2017, mas tendo a oportunidade de ver a mudança e a conquista do espaço da mulher também nesse campo do conhecimento.

De fato, de lá para cá as mulheres não apenas marcaram mais presença como também alcançaram espaços considerados inimagináveis décadas atrás, seja no ambiente corporativo, liderando equipes e projetos dos mais variados portes e segmentos, seja no universo acadêmico e científico, com suas relevantes contribuições para o saber na área da engenharia. É justamente nesse universo que mais uma professora da EESC-USP, Vilma Alves de Oliveira, pode mostrar a força feminina.

Recentemente, Vilma foi empossada como editora chefe da renomada revista Springer Journal of Control, Automation and Electrical Systems, periódico científico da Sociedade Brasileira de Automática (SBA) e que se tornou internacional em 2013. A revista publica trabalhos de pesquisa originais, bem como tutoriais relativos à automação industrial, sistemas inteligentes, robótica, instrumentação, eletrônica de potência, sistemas de potência e teoria e aplicações de controle.

“Fico honrada em receber o convite para assumir essa posição de editora chefe dessa importante publicação, fruto do meu engajamento nas atividades da Sociedade Brasileira de Automática, da qual fui presidente no período 2019-2020. Assim como aconteceu comigo, tenho observado na área da engenharia uma participação maior das mulheres no corpo editorial de periódicos, o que comprova o crescimento da presença feminina na carreira de exatas e, em especial, da Engenharia, onde temos ocupado postos de liderança”, ressalta Vilma, que também é presidente da Comissão de Graduação da EESC.

Ainda há muito espaço para elas

Embora dos anos 60 para cá seja notório e destacado o crescimento da presença feminina nas engenharias, basta observar um pouco os números para perceber o tamanho do campo que elas ainda têm para crescer.

Na EESC-USP, de todos os departamentos de engenharia (Ambiental, Civil, Elétrica, Mecânica, Aeronáutica, Produção Mecânica, Engenharia de Produção, Mecatrônica, Materiais e Manufaturas, e Computação), apenas no primeiro, o de Engenharia Ambiental, elas são maioria, o que vem acontecendo desde o ano de 2017. Contudo, ao somar o número total de matriculados, em 2021, dos 2.585 alunos da universidade, pouco mais de 20% são mulheres, porcentagem que vem se repetindo nos últimos cinco anos.

O exemplo da professora Vilma é um dentre tantos que representa não só a capacidade e a força feminina para ocupar postos de liderança na área da engenharia, como também ilustra um caminho muito mais sólido e pavimentado do que aquele enfrentado por Dona Evelyna, para que as mulheres engenheiras possam desempenhar sua carreira e mostrar seu talento nesse campo profissional. Elas podem e devem ocupar tais espaços.