Artigo da Nature aborda os desafios e oportunidades na gestão de riscos de secas e de inundações
08 de agosto de 2022
Atualizado: 25 de novembro de 2022
Assessoria de Comunicação

The challenge of unprecedented floods and droughts in risk management. Esse é o título do estudo publicado recentemente na revista Nature, que mostra os desafios para nossa sociedade sobre a gestão de riscos de secas e de inundações sem precedentes. 

Liderado pela Dra Heidi Kreibich, do GFZ/Potsdam (Alemanha), o trabalho conta com a participação de pesquisadores de instituições de vários países, incluindo a Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP. Pela Unidade, colaboraram o professor Eduardo Mario Mendiondo, docente do Departamento de Hidráulica e Saneamento (SHS), e o doutorando Felipe Augusto Arguello Souza, do Programa de Pós-Graduação em Hidráulica e Saneamento.

Os coautores da EESC integram dois Núcleos de Apoio à Pesquisa (NAPs): Núcleo de Apoio à Pesquisa em Mudanças Climáticas (INCLINE) e o Centro de Estudos e Pesquisas sobre Desastres de São Paulo (CEPED/USP). Também participam da Subcomponente de Segurança Hídrica do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas Fase 2 (INCTMC2-FAPESP), coordenado pelo CEMADEN/MCTI, e se articulam com o  laboratório-ateliê WADILab (Water-Adaptive Design & Innovation Lab), criado na EESC, em 2017.

O artigo publicado mostra, primeiro, que estudos comparativos e interdisciplinares reforçam a tese que a redução de risco de desastres passa pela integração de todas as dimensões de risco. Assim, aponta que a quantificação completa dos riscos, com múltiplas ameaças, dos níveis de exposição e dos graus de vulnerabilidade, apresenta interações peculiares e até paradoxos em diferentes partes do planeta. A solvência financeira de setores usuários, como hidrelétricas, companhias de saneamento, perímetros de irrigação, mineradoras, navegação etc., depende de como se gerenciam esses riscos a extremos hidrológicos. Isso passa por uma comunhão entre medidas estruturais e não estruturais e também por aceitar a gestão da oferta e a gestão da demanda de água. O que leva a uma “reflexão-ação-reflexão sócio-hidrológica”, promovida pela Década 2013-2012 Panta Rhei Everything Flows (Society & Hydrology Under Change) da International Association of Hydrological Sciences.

Exemplos recentes: O caso de São Paulo

A construção de reservatórios, por exemplo, para conter efeitos de secas é fundamental para a segurança hídrica. Porém, seu sucesso está condicionado a ter campanhas de popularização da ciência e de incorporação de competências na educação (primária, média e superior) que incentivem o uso racional, o reaproveitamento e o reuso de água. Sem essa conscientização cultural e de melhores hábitos, a simples existência de mais reservatórios pode até induzir ao expressivo consumo de água.  Com isso, aumentariam-se os riscos de déficits hídricos futuros e trariam as chamadas “secas sócio-hidrológicas”, criando um círculo vicioso, com a necessidade de mais reservatórios. Esse enorme potencial de reuso de água foi demonstrado em outro estudo recente para a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), liderado pelo doutorando Felipe Augusto Arguello Souza.

Esses cenários promissores justificam a necessidade da recente Cátedra UNESCO da USP sobre Águas Urbanas: Qualidade, Gestão, Reaproveitamento e Reuso, sediada desde 2020 pela EESC.

O artigo da Nature também destaca a ciência cada vez mais interdisciplinar. Embora crescente, ela tem ainda muito a expandir. Felizmente, jovens pesquisadores estão abertos ao diálogo interdisciplinar e evitam a ciência isolada em "silos". Paralelamente, os programas de pós-graduação (PPGs) e os institutos de pesquisa e de ensino superior (IES) devem promover esse movimento. Por exemplo, várias ciências podem ser integradas a abordar desastres que são eventos intrinsecamente multidisciplinares, como reforçado no artigo da Nature. Um exemplo dessa ação interdisciplinar é que eventos extremos, como secas e inundações, precisam fomentar instrumentos de transferência de riscos, como os seguros indexados sob mudanças climáticas.

Os também coautores desse artigo da Nature, Dr. Guilherme S Mohor, hoje pesquisador na Universidade de Potsdam, Alemanha, e o Prof. Dr. Diego Guzmán, docente da Pontifícia Universidad de Bucaramanga, Colômbia, ambos ex-alunos do Programa de Pós-Graduação em Hidráulica e Saneamento da EESC, mostram em outro artigo recente que essa “interdisciplinariedade-em-ação” via seguros para extremos é possível, viável e promove um diálogo mais inclusivo de governança e segurança hídrica para a região metropolitana de São Paulo.

Ciência Aberta + Nova Regulação = Oportunidades à Vista

Ao juntar dezenas de casos de todos os continentes, o artigo de Nature evidencia tanto os casos de sucesso como os, digamos, “mal-aprendidos”. Dado que a transferência das experiências não é simples, a construção de um banco de dados, no formato “showcase”, disponível no artigo, é uma iniciativa promissora. Esses bancos promovem os princípios F.A.I.R. de ciência aberta e são de utilidade para outros grupos interdisciplinares no Brasil, dentro os quais destacam-se o Centro de Pesquisa em Engenharia sobre Inteligência Artificial (C4AI/FAPESP/IBM, coordenado pelo INOVA-USP), o Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão de Matemática Aplicada para Indústria (CEPID-CeMEAI-FAPESP, coordenado pelo ICMC-USP) e o Consórcio de Gestão de Riscos de Desastres e de Resiliência Social (MADIS/Belmont Forum/FAPESP, coordenado pela FSP-USP), antes denominado Observatório da Teoria da Mudança para Resiliência aos Desastres, TOCO_DR).

Finalmente, o artigo da Nature traz uma reflexão maior sobre a valoração de temática e de parcerias futuras. “Embora seja desafiadora, a gestão de riscos no Brasil está cheia de oportunidades”, complementa o professor Mendiondo,  que também é mentor do WADILab.

Pesquisador principal do INCTMC2 e dos NAPs INCLINE e CEPED, ele indica novas sinergias junto ao C4AI, ao CeMEAI e ao MADIS. “Temos um novo Marco de Saneamento (Lei Federal 14.026/2020), uma nova Lei de Pagamento por Serviços Ambientais (Lei Federal 14.119/2021) e um Plano Nacional de Segurança Hídrica que projeta R$ 110 bilhões, até 2035. Portanto, há espaços para vários grupos participarem nas metas de universalização do saneamento e de segurança hídrica. Isso representa uma forte motivação às jovens gerações buscarem, por meio da ciência interdisciplinar, as novas oportunidades no Brasil, um mercado de trabalho continental e com opções para empregos na área de sustentabilidade ambiental, capital natural e sociedade”, concluiu.


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