Pesquisa desenvolvida na EESC-USP aumenta chances de pacientes com lesão medular movimentarem membros inferiores e superiores
14 de abril de 2014
Atualizado: 15 de abril de 2014
Assessoria de Comunicação

Nos últimos 25 anos, o professor Alberto Cliquet Junior, do Departamento de Engenharia Elétrica e de Computação da Escola de Engenharia de São Carlos da USP (EESC-USP), dedica-se aos estudos para reabilitação de pacientes com lesão medular, paraplégicos e tetraplégicos, tornando possível, em alguns casos, o retorno dos movimentos voluntários nos membros inferiores e superiores. A lesão medular afeta milhares de pessoas em todo o mundo e interfere em vários aspectos da vida social e profissional do paciente. “Após sofrer o trauma, a pessoa é acometida por uma interferência na comunicação do cérebro, que fornece a informação sensorial de dor, temperatura e propriocepção ao corpo”, explicou pesquisador. Além disso, a falta de sensibilidade para movimentar-se resulta em outros prejuízos à saúde, como: obesidade, osteoporose, doenças cardiovasculares, infecções do trato urinário e diabetes. O trabalho é desenvolvido no Laboratório de Biocibernética e Engenharia de Reabilitação (LABCIBER) da EESC-USP e aplicado no Laboratório de Biomecânica e Reabilitação do Aparelho Locomotor do Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ele consiste na tecnologia de Estimulação Elétrica Neuromuscular (EENM), que gera impulsos elétricos de baixa intensidade aplicados por eletrodos colocados sobre a pele do paciente e que estimulam o sistema nervoso. Os eletrodos do equipamento são anexos, sem que haja qualquer tipo de intervenção cirúrgica, em pontos estratégicos dos membros superiores para gerar o movimento de esticar o braço e prender objetos com os dedos. Nos membros inferiores o objetivo é estimular a marcha artificial, que é um tipo de locomoção de padrão bípede reproduzido pelo sistema sensório-motor(percepção e reação) do corpo. Após um período de tratamento, que pode variar de acordo com cada paciente, o processo pode gerar sensações e atos voluntários, isso porque, após a lesão medular causar uma falta ou interrupção de controle e comunicação do cérebro com todos os sistemas fisiológicos, a estimulação eletrônica é capaz ativar o Gerador de Padrão Central humano, o qual é uma cadeia de neurônios capaz de criar um padrão de movimento rítmico por si só, isto é, sem que seja necessária a interação de um controlador principal, como o cérebro. Para os tetraplégicos a prática é aplicada nos membros inferiores por meio de uma tecnologia chamada de Suporte Parcial de Peso Corpóreo, que é associada à estimulação elétrica neuromuscular. Para os membros superiores utiliza-se um equipamento robótico que fica acoplado ao braço e também funciona combinado à estimulação. Atualmente, usando essa tecnologia, o pesquisador consegue realizar o atendimento de um número limitado a 100 pacientes no Ambulatório de Reabilitação Raquimedular do Hospital das Clínicas (HC) da Unicamp. “Entre os voluntários que realizam o processo, 90% ficam em pé e andam artificialmente com os aparelhos e protocolos de estimulação neural, e cerca de 3% voltam a andar”, afirmou Cliquet. Os resultados indicam também que, ao ficar em pé e caminhar por meio do equipamento, os pacientes tiveram melhoria na função cardiopulmonar e a reversão da osteoporose, além de manterem a integridade das articulações. Segundo o docente, alguns países desenvolvem ou já desenvolveram tecnologias para a reabilitação de lesados medulares baseando-se em outros estudos, mas o trabalho desenvolvido por Cliquet nos dois laboratórios é pioneiro no que diz respeito às pesquisas e ao atendimento ambulatorial dos pacientes. A inovação tecnológica por meio de estimulação eletrônica é considerada muito promissora na área de engenharia de reabilitação, mérito reconhecido em convites feitos ao professor para participar em diversos congressos internacionais. Dentre as apresentações como palestrante convidado, destacam-se o 13th World Congress da International Society for Prosthetics and Orthotics (ISPO), em 2010, a 4th International Joint Conference on Biomedical Engineering Systems and Technologies (BIOSTEC), em 2011, o 11th Vienna International Workshop on Functional Electrical Stimulation (FES), em 2013, e a participação como presidente na 7th International Conference on Biomedical Electronics and Devices (Biodevices), ocorrida em março deste ano. Para que a pesquisa seja ampliada e aplicada em outros centros e hospitais especializados em tratamento de pacientes com lesão medular ainda faltam investimentos. Hoje ela se mantém através de recursos de várias fontes para o desenvolvimento e aplicação, mas, segundo o docente, ainda é necessário que haja um maior reconhecimento das agências de fomento. Por Keite Marques da Assessoria de Comunicação da EESC

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Fotos para download:

http://www.eesc.usp.br/portaleesc/images/noticias/2014/eenm/eesc_cliquet_pesquisa_eenm_1_site.jpgLegenda: O professor Alberto Cliquet Jr. desenvolve há 25 anos a pesquisa com Estimulação Elétrica Neuromuscular

http://www.eesc.usp.br/portaleesc/images/noticias/2014/eenm/eesc_cliquet_pesquisa_eenm_2_site.jpgLegenda: Cliquet no Laboratório de Biocibernética e Engenharia de Reabilitação da EESC-USP

http://www.eesc.usp.br/portaleesc/images/noticias/2014/eenm/eesc_cliquet_pesquisa_eenm_4_site.jpgLegenda: Paciente com tetraplegia durante treinamento do alcance e da preensão utilizando o sistema híbrido (órtese dinâmica associada à Estimulação Elétrica Neuromuscular)

http://www.eesc.usp.br/portaleesc/images/noticias/2014/eenm/eesc_cliquet_pesquisa_eenm_3_site.jpgLegenda: Paciente com paraplegia durante condicionamento muscular dos membros inferiores utilizando a Estimulação Elétrica Neuromuscular


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