Projeto de ex-alunos do IAU vence concurso em Araraquara
O projeto vencedor foi elaborado pelos arquitetos Alexandre Vergara e Felipe Santos. No trabalho, eles propuseram um conjunto de mobiliário urbano, dividido em três módulos, composto por abrigos, assentos, totens informativos, lixeiras e espaço para publicidade. O grande desafio dos autores foi encontrar uma solução que pudesse ser facilmente replicada e que ao mesmo estivesse em harmonia com o local, onde estão localizados dois edifícios tombados, o da Câmara Municipal e o da Casa da Cultura.
"Fizemos uma investigação exaustiva e estudamos propostas das mais variadas, implantadas no Brasil e no mundo. Foi preciso desenhar com cuidado, pois a paisagem urbana possui muitos elementos, sendo comum o conflito de informações. Acredito que a intervenção deve ter leveza e precisa se colocar com elegância, promovendo bem-estar, prazer e conforto para as pessoas", explica Alexandre.
Segundo Felipe, como a demanda pelo transporte público na região é alta, foram instaladas de forma emergencial no passado uma série de estruturas aglomeradas em um único setor da praça, gerando um grave ruído na paisagem. Além disso, algumas intervenções realizadas ao longo dos anos acabaram descaracterizando o local, criando obstáculos físicos e visuais que dificultam e comprometem o uso das estruturas ali presentes. Foi com base neste cenário que surgiu a necessidade de desenvolver uma nova proposta que não ferisse a paisagem urbana daquele ambiente.
Por dentro do projeto – Feitos de material metálico, os abrigos de passageiros propostos pelos arquitetos são compostos por um conjunto de pilares que ditam a dinâmica vertical da estrutura e servem de base para que bancos, lixeiras e painéis de publicidade possam ser instalados de maneira flexível. Dessa forma, é possível que os abrigos se adequem a diferentes situações e mantenham o espaço livre na calçada para o melhor tráfego de pedestres.
Dois planos horizontais foram fixados aos pilares com fechamento posterior transparente, em vidro, que proporciona visibilidade e sintonia com o patrimônio histórico da praça e dos prédios. A cobertura da estrutura, que possui espaços para a passagem de árvores, foi projetada com duas camadas, sendo uma de chapa metálica perfurada, responsável pelo sombreamento filtrado da luz, e outra de vidro, projetada para a proteção das chuvas e do sol. Outro destaque é a presença de calha e duto na cobertura, que permitem a coleta de águas pluviais, contribuem para a maior absorção de água pelo solo e ainda possibilitam a irrigação de jardins lindeiros. "Essa flexibilidade permitiu que desenhássemos uma solução que valorizasse os prédios, incorporasse a vegetação existente e dialogasse com o paisagismo do local", afirma Felipe.
As estruturas foram distribuídas ao longo da quadra com o objetivo de melhorar a acomodação dos ônibus durante o acesso dos passageiros aos veículos. A implantação dos abrigos conversa com o desenho da praça, intercalando os módulos com os acessos às edificações, além de criar novas passagens. A pintura dos abrigos é feita majoritariamente com cor neutra (grafite), contrastando com partes em tom alaranjado, em referência às cores do pôr do sol, característico da região de Araraquara. Luzes instaladas por toda a estrutura compõem o conjunto de mobiliário, que ainda conta com totens informativos que fornecem diversas informações aos usuários e demarcam a parada de ônibus. Neles, os passageiros poderão acompanhar quais linhas de ônibus estão disponíveis, seus respectivos horários, conferir mapas, além de dados complementares. O projeto propõe ainda a recuperação de pisos e canteiros originais que, com o passar dos anos e devido às intervenções sofridas, acabaram sendo danificados.
De acordo com Alexandre, a relação dos abrigos com seu entorno foi um dos diferenciais do projeto. "Creio que obtivemos uma boa composição. Os elementos nos parecem bastante dinâmicos, ou seja, não se apresentam de forma rígida, pelo contrário, resulta em um movimento ritmado", afirma. Ele explica que a ideia é utilizar o projeto como inspiração para que outras áreas da cidade com a mesma demanda possam adotar as propostas apresentadas no concurso. A expectativa é de que o projeto vencedor seja implementado ainda em 2020 na Praça Santos Dumont.
Base sólida – Os arquitetos contam que a formação obtida no IAU e também na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP, quando o curso de Arquitetura e Urbanismo ainda era vinculado à Unidade, teve importante contribuição para o desenvolvimento do trabalho. Durante o terceiro ano de graduação, mais especificamente na disciplina de Projeto, ministrada na época pelo professor aposentado do IAU, Renato Anelli, os ex-alunos se recordam de um exercício que desafiou os estudantes a criarem um equipamento urbano para o transporte público municipal de São Carlos.
"Tivemos naquele momento uma visão técnica do tema, discutimos todo o sistema de transporte público e isso influenciou na nossa proposta. Por exemplo, propusemos o desmembramento da parada de ônibus na Praça Santos Dumont em dois pontos, de forma a distribuir as linhas para acomodar melhor os veículos no quarteirão. Nada disso estava posto no edital, mas foi uma ideia que se relaciona com a nossa formação", revela Alexandre.
Os vencedores receberam da Prefeituta de Araraquara o prêmio de R$ 5 mil pelo projeto. A notícia sobre a conquista do concurso serviu de combustível para estimular ainda mais os profissionais a seguirem em busca de ações que gerem benefícios diretos para a população: "Essa possibilidade de retornar para a sociedade um serviço que é fruto do conhecimento germinado dentro da Universidade Pública é algo bastante especial", conta Felipe. "Esperamos que mais oportunidades como essa sejam oferecidas e que outras gestões promovam concursos a fim de convocar os arquitetos e urbanistas para a solução dos problemas do meio urbano", finaliza Alexandre.
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Por Henrique Fontes, Assessoria de Comunicação do IAUFotos: Felipe Santos e Alexandre Vergara