Docente da EESC participa de missão para avaliar estragos da enchente e deslizamentos no RS
14 de junho de 2024
Atualizado: 02 de julho de 2024
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O Estado do Rio Grande do Sul, que passou por um momento trágico, com enchentes e deslizamentos que assolaram grande parte de seus municípios, contou com forte mobilização nacional em diferentes frentes, com o objetivo de minimizar os danos causados pelas intensas chuvas. Uma importante ajuda veio por meio do Centro de Apoio Científico em Desastres (Cenacid), criado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e formado por 40 geólogos e cientistas de 10 universidades brasileiras, da qual a Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC-USP) faz parte, com Lázaro Valentim Zuquette, professor titular do departamento de Geotecnia.

Zuquette e os demais membros do Cenacid permaneceram entre os dias 13 e 17 de maio em Caxias do Sul com a missão de avaliar as áreas afetadas pelas fortes chuvas na cidade, especialmente em locais onde ocorreram deslizamentos que causaram vítimas fatais.

Na entrevista a seguir, o docente da EESC compartilha como foi a missão no estado gaúcho, descreve o trabalho do Cenacid e destaca a importância da área de Geotecnia para a coleta de dados e compartilhamento de conhecimento no atual contexto de mudanças climáticas e de maior ocorrência de eventos extremos, em especial no Brasil.

O que é o Cenacid e quando começou a sua história nesse grupo?

O Cenacid é um centro que reúne pesquisadores e especialistas de diversas áreas e de várias instituições de ensino e de pesquisa brasileiras, de modo a trabalhar em situações de emergência que necessitem de estudo para mitigar ou prevenir danos, em análises com abordagem interdisciplinar que se transformam em relatórios que trazem informações como impactos e recomendações sugeridas às autoridades e gestores públicos da região afetada pela emergência. O centro foi criado no ano de 2000 e, desde o início dos trabalhos, eu integro a equipe.

Como foi o trabalho realizado no Rio Grande do Sul?

A missão no estado devastado pelas chuvas foi organizada a partir do contato entre membros do governo estadual e a equipe do Cenacid. Nos deslocamos para a cidade de Caxias do Sul, onde, por cinco dias, visitamos locais atingidos por deslizamentos. Foram regiões bastante afetadas, de modo que os técnicos da prefeitura e do estado necessitavam de orientações detalhadas dessas áreas. 
Mesmo diante das condições climáticas, do difícil acesso aos locais e dos riscos da ocorrência de outros deslizamentos, pudemos traçar importantes análises sobre o terreno, de modo a orientar alguns cuidados a serem adotados pela prefeitura em resposta aos eventos de perigo, com o objetivo de conter significativamente as perdas.

Além dessa tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul, em quais missões também esteve presente?

Como integro o grupo desde a sua criação, tive a oportunidade de contribuir em ações nos estados de Santa Catarina, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo. Todas essas regiões já sofreram graves consequências em razão da interferência humana sobre o meio ambiente, que já vem de longa data. 
Infelizmente, é preciso alertar que esses eventos de chuvas que geraram inundações, escorregamentos e que castigaram o estado gaúcho, além de outras ocorrências climáticas como ventos e secas, poderão atingir outras regiões do Brasil num futuro não muito distante.

Sobre essa interferência humana, de que modo a universidade, em especial a EESC, pode ajudar a traduzir, interpretar e divulgar os recados dados pela natureza?

Em nossa Escola de Engenharia de São Carlos há muitos profissionais envolvidos com pesquisas em temas relativos ao meio ambiente, que podem desenvolver procedimentos que venham contribuir para os prognósticos com antecedência suficiente de eventos perigosos naturais ou antropogênicos. 
No que tange ao Departamento de Geotecnia, ressalta-se que, desde os anos 1980, há pesquisas e estudos voltados aos prognósticos de eventos perigosos, planejamento territorial e estimativas de riscos, bem como soluções de problemas ambientais. Os estudos para avançar no conhecimento da ocorrência dos eventos perigosos estão relacionados a pesquisas de campo em áreas com características ambientais específicas, que são fundamentais na busca de maior e melhor compreensão. Aqui, vale destacar que, recentemente, publicamos um relevante trabalho relativo à condição de Drenagem sustentável (SUD) para a Bacia do Córrego do Gregório, que também foi encaminhado à prefeitura de São Carlos (SP), cidade do estado paulista que é cortada pelo mesmo.

Como a Geotecnia pode ajudar na prevenção ou na melhor administração dessa relação homem e natureza?

O conhecimento geotécnico é uma das bases para o entendimento dos processos naturais, principalmente quando se considera as mudanças climáticas, em especial no que se refere às alterações dos ciclos e intensidades das chuvas e os prognósticos de eventos perigosos naturais delas decorrentes, como os movimentos de massa gravitacionais, erosivos, subsidências entre outros. Novamente, diante do atual cenário que vivemos, devemos ter ciência que os desastres decorrentes de processos naturais e antropogênicos deverão ser mais frequentes. Nesse sentido, os conhecimentos nessa área, em conjunto com outros conhecimentos multidisciplinares, nos permitirão minimizar perdas, desenvolver planejamento territorial adequado e de respostas aos desastres, assim como de reconstrução, como estamos atuando neste momento no Rio Grande do Sul. Trata-se de uma área que certamente terá cada vez mais demanda, mais trabalho e mais espaço novos ingressantes.

Reunião na Prefeitura de Caxias do Sul. Clique na foto para ver a matéria publicada.

 


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