Morre aos 96 anos Delfim Netto, o ministro do “milagre econômico” dos anos de 1970
Antonio Delfim Netto, Professor Emérito da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP, ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento, faleceu, nesta segunda (12), aos 96 anos de idade. Nos três últimos cargos acima citados, teve profunda e decisiva influência nos destinos da economia brasileira durante os governos dos presidentes Emílio Garrastazu Médici e João Figueiredo, nos anos dos regimes militares. Além desses cargos, foi secretário da Fazenda do Governo do Estado de São Paulo, embaixador na França e deputado federal.
Em 1959, Delfim Netto assumiu uma das cadeiras de docente da Escola de Engenharia de Engenharia de São Carlos (EESC-USP).
Nascido em 1928, em São Paulo, era descendente de imigrantes italianos. Segundo a FEA, estudou no Liceu Siqueira Campos, no Cambuci, e, em 1948, ingressou na USP como aluno de Ciências Econômicas da terceira turma de estudantes da então Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas (FCEA). Durante os anos de estudante universitário, foi presidente do Centro Acadêmico Visconde de Cairu (CAVC).
Em 2009, durante a inauguração da Sala Delfim Netto na FEA, o jornal interno da unidade descreveu sua história na faculdade e na administração pública brasileira:
Com graduação em economia pela então Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas (FCEA) da USP, a partir de 1952 começa a exercer função de professor desta casa. Em 1959, torna-se professor livre-docente com a tese “O problema do café no Brasil”, que é um clássico da literatura econômica brasileira. Recebeu, em 1963, o título de professor catedrático de Teoria do Desenvolvimento Econômico com o estudo “Alguns problemas do planejamento para o desenvolvimento econômico”.
No início dos anos 1960, além do cargo de professor na faculdade, desenvolveu trabalhos junto à administração pública estadual e federal e, durante mais de dois anos, liderou os famosos seminários de teoria econômica e economia brasileira na faculdade, verdadeira pós-graduação para vários ex-alunos e professores, muitos dos quais viriam a constituir sua equipe nos cargos que viria a assumir. A projeção acadêmica e profissional fornece a base pela qual, em 1966, deu início a uma nova fase de sua vida, galgando os mais importantes postos dentro da administração pública. Nesse ano, foi nomeado secretário da Fazenda do Estado de São Paulo. Já no ano seguinte, em 1967, assumiu a função de ministro da Fazenda. Dirigiu a economia brasileira entre 1967 e 1974, nos governos de Costa e Silva e Médici. O desenvolvimento econômico desse período ficou conhecido como o do “Milagre Econômico”.
Embaixador em Paris
Depois de seu trabalho à frente do Ministério da Fazenda, Delfim foi enviado para a França na condição de embaixador. Permaneceu em Paris de 1975 a 1978. De regresso ao Brasil, seguiu novamente para Brasília e ocupou o cargo de ministro da Agricultura. No mesmo ano de 1979, assumiu o Ministério do Planejamento. Manteve-se nesse ministério até 1985.
Em 1983, na USP, abraçou a Cátedra de Análise Macroeconômica. Quatro anos mais tarde, em 1987, em função de toda sua iniciativa acadêmica e sua experiência profissional, foi homenageado pela faculdade com o título de Professor Emérito.
De 1987 até 2006, Delfim Netto se elegeu seguidas vezes deputado federal. Em 2007, passou a coordenar uma série de seminários dentro do Departamento de Economia da FEA voltados para questões relacionadas tanto com o desenvolvimento da economia brasileira quanto com o desenvolvimento da teoria econômica, além de ser presença constante em debates e na mídia, influenciando a tomada de decisões e o rumo da política e da economia brasileira.
A Assessoria de Imprensa da FEA-USP lembra:
Em 2011, decidiu doar todo o seu acervo particular de livros à instituição onde estudou e deu aulas por vários anos. Hoje, o acervo compõe a mais completa biblioteca de economia e temas relacionados à área econômica do Brasil: a Biblioteca Delfim Netto. Mas as obras ali reunidas vão além dessa temática, englobando temas diversos da área de ciências humanas, pela qual o economista tinha grande apreço, como história, antropologia, sociologia, filosofia, tecnologia e meio ambiente. Entre as preciosidades reunidas por Delfim Netto em seu acervo particular, estão diversas edições da obra “A Riqueza das Nações”, escrita pelo “pai da economia moderna”, o escocês Adam Smith, em 1776, além da primeira edição da obra máxima do economista britânico John Maynard Keynes.
Texto: Jornal da USP, com adequações da Assessoria de Comunicação da EESC-USP