Tecnologia Blockchain ajuda a regular e organizar esforços colaborativos entre empresas
Estudo realizada na EESC mostra como a governança digital pode ajudar empresas a colaborar entre si.
15/05/2025
Da Redação | SVCOM
15/05/2025 Da Redação | SVCOM
Lívia, doutoranda, e o professor Fábio, do Departamento de Engenharia de Produção. Foto: Divulgação

No mundo globalizado, dinâmico e cada vez mais tecnológico, poder contar com uma forma digital de governança que possibilite empresas a colaborarem entre si, temporariamente ou em alianças de longo prazo, pode representar a diferença para promover ajustes de rota ou ainda responder a pressões e incertezas de mercado, bem como à necessidade de inovação e à escassez de recursos. Neste contexto, um estudo realizado na Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC-USP), revelou a importância da tecnologia blockchain no mundo corporativo.

A dissertação foi produzida por Lívia Maria Bettini de Miranda, doutoranda do Departamento de Engenharia de Produção da EESC-USP, sob orientação do professor Fábio Müller Guerrini e em colaboração com o professor Jó Ueyama, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC-USP).

“O trabalho mostra o potencial existente na tecnologia blockchain, que funciona como um banco de dados compartilhado e descentralizado por várias pessoas ou empresas, o que permite transações de informações e a criação de contratos inteligentes — códigos que automatizam processos. Isso viabiliza sistemas de governança para empresas e, no contexto de colaboração, permite a especificação de regras, responsabilidades, estruturas de autoridade e mecanismos para regular e coordenar as ações conjuntas dos parceiros”, descreve Lívia.

Esse banco de dados segue princípios de transparência, em que novos registros só podem ser adicionados em ordem cronológica e com o consenso dos participantes, garantindo sua rastreabilidade. Uma vez registrados, os dados são protegidos por criptografia e tornam-se imutáveis — não podendo ser apagados ou alterados.

“Em nosso trabalho, destacamos que o blockchain pode facilitar três aspectos importantes da colaboração: o compartilhamento de conhecimento, a tomada de decisões em grupo e a governança de conflitos. Para cada um dos aspectos, propomos e validamos mecanismos baseados nas funcionalidades da tecnologia, isto é, criptografia, automatização, transparência, rastreabilidade, imutabilidade e descentralização”, detalha a doutoranda.

Em relação ao primeiro aspecto, a dissertação ressaltou os mecanismos de gerenciamento de identidade e de compartilhamento de dados preservando a privacidade, apoiando interações rotineiras entre parceiros para transferir, aplicar ou gerar conhecimento especializado. Quanto ao segundo aspecto, o mecanismo de sistema de votação baseado em blockchain viabiliza decisões coletivas por meio de votação das empresas. Em relação ao terceiro aspecto, um sistema de reputação é proposto para ajudar a monitorar e quantificar o comprometimento dos parceiros com as metas conjuntas da colaboração.

Como o sucesso dessas parcerias entre empresas e os resultados positivos da colaboração dependem dos mecanismos de governança escolhidos pelos gestores, a pesquisa produzida na EESC buscou oferecer orientações práticas que ajudassem gestores e demais interessados a entender como projetar, implementar e operar esses mecanismos baseados na tecnologia blockchain, de forma adequada a cada contexto.

“Para a modelagem desses mecanismos, foi utilizado o método interpretativo For Enterprise Modeling (4EM), que considera tanto as necessidades organizacionais quanto os aspectos comportamentais das empresas em redes de colaboração. A fim de validar a utilidade e relevância dos mecanismos propostos, foram definidas hipóteses, que foram testadas por meio de métodos estatísticos com base nas respostas de 12 especialistas, entre acadêmicos e profissionais da indústria da área de gestão de operações. Além disso, a pesquisa realizou uma simulação e desenvolveu uma prova de conceito para avaliar, de forma inicial, sua funcionalidade e viabilidade no longo prazo. Essas abordagens complementares permitiram a validação e a verificação dos achados da pesquisa”, explica Lívia.

Embora a pesquisa tenha utilizado métodos complementares de validação e verificação dos mecanismos de governança baseados em blockchain, a avaliação dos resultados deve ser estendida para incluir as percepções de diferentes especialistas da área de gestão de operações, a fim de expandir as evidências preliminares encontradas.

A doutoranda conta que “pesquisas futuras devem testar os mecanismos com evidências empíricas mais amplas e ainda mais aprofundadas. Além disso, os mecanismos podem ser aplicados e testados por meio de protótipos funcionais em ambientes reais, o que contribuirá para uma melhor compreensão sobre como viabilizar e operar organizações baseadas em blockchain.”

“Com este estudo, buscamos mostrar que a tecnologia blockchain vai além das criptomoedas e das aplicações financeiras, podendo transformar a forma como as empresas colaboram. Isso é especialmente relevante diante das crescentes pressões e incertezas do mercado, da necessidade de inovação e da escassez de recursos que as empresas podem enfrentar”, afirma Lívia.

A doutoranda da EESC conclui: “Sob a perspectiva da governança, o blockchain facilita a automatização de processos, a coordenação de ações conjuntas, e a criação de incentivos para a colaboração, além de fortalecer a confiança entre diferentes partes, oferecendo uma forma de governança digital para apoiar os relacionamentos entre empresas.”


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