Alunos da USP ganham bolsas para complementar formação no exterior
O projeto é ousado e pretende colocar até 2014, cerca de 100 mil brasileiros, entre graduandos e pós-graduandos para estudar no exterior e aumentar o conhecimento em áreas estratégicas para o desenvolvimento do Brasil, como setores de energia, engenharia e tecnologia.
Segundo o professor Cláudio Possani, Assessor de Relações Internacionais da Vice-Reitoria Executiva de Relações Internacionais (VRERI) da USP, são cerca de 610 uspianos que estão no exterior através do Ciências Sem Fronteiras. “A USP e a UFRS são as duas instituições com maior número de alunos participantes”, afirma o professor.
Para ele, intercâmbios internacionais são de fundamental importância na formação dos alunos de graduação. “Nos anos recentes, passou a ser um diferencial cada vez mais valorizado pelo mercado de trabalho, pois efetivamente aprimora a formação do aluno”.
Por este programa é possível estudar em rotas mais “tradicionais”, como Estados Unidos, Canadá, França e Alemanha, e também em rotas menos conhecidas, como Índia, Hungria e Dinamarca. Na maioria das bolsas é requerida fluência em inglês ou na língua do país de destino, mas há exceções. O aluno interessado deve verificar os pré-requisitos no site, de acordo com a universidade de destino.
Intercambistas
Um dos 610 estudantes da USP que estão em intercâmbio pelo programa Ciências Sem Fronteiras é Daniel Minatelli, aluno do Instituto de Química (IQ). Ele está na Freie Universitat Berlin que, segundo Daniel, está entre as melhores da Alemanha. “É muito bem estruturada e conta com professores altamente qualificados”, diz.
O aluno se mostra bastante satisfeito com o intercâmbio e a troca de experiências que está vivendo, e considera a sua adaptação “tranquila”. “As coisas aqui funcionam muito bem e as pessoas são bem abertas a ajudar”, celebra. No entanto, a língua tem sido o maior obstáculo enfrentado por Daniel.
Mesmo com o curso de alemão oferecido pelo Ciências Sem Fronteiras antes de viajar, o futuro químico ainda sente um pouco de dificuldade. Mas nada que impeça suas atividades. “O curso intensivo antes do começo das aulas foi de grande valia para o aprimoramento do idioma, além do que, a universidade dá todo suporte para os alunos estrangeiros, como por exemplo, aulas de idiomas, tutores, professores responsáveis e escritórios especializados”, explica Daniel.
Talita Rigon, aluna de Engenharia de Alimentos da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, também é uma das bolsistas do programa. Ela está desde julho de 2012 na Universitè de Technologie de Compiègne (UTC), na França, e também aproveita cada momento da viagem. “Viver essa experiência em outro país está faz com que eu transforme a minha visão de mundo, amplie a minha cultura, e reveja os meus valores. Está abrindo a minha cabeça para novas ideias e crenças.” Tudo isso, avalia a estudante, promoverá seu ”crescimento profissional, pessoal e emocional”.
Para Talita, a maior dificuldade tem sido a falta dos familiares e dos amigos, além do choque cultural que ela teve nos primeiros meses. “Não poder ter sempre a zona de conforto que tinha antes, com os amigos e, principalmente, a família por perto, é um pouco difícil. Saber de início lidar com várias mudanças também é algo que pode ser um pouco perturbador para alguns. Lidar com a diferença entre as culturas, como o hábito alimentar, também pode ser um pouco difícil”, explica. Já quase na metade do processo, ela acreditar ter controlado bem esse ponto e procura se focar nos estudos e em fazer novas amizades na França.
Sentindo um choque cultural menor por ter feito intercâmbio em Portugal, Nádia Martarelli, aluna de Engenharia de Produção Mecânica da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP, também comemora o crescimento pessoal e acadêmico adquirido. Ela cursou seis disciplinas, entre as quais apenas uma possibilitava pedido de equivalência na USP. “Pude complementar bastante minha formação com diversas disciplinas de gestão”, explica a estudante.
Nádia escolheu a Universidade do Minho (UMinho), dentre outros motivos, por não exigir o teste de proficiência em língua estrangeira, o que ela não tinha na época. Assim como os outros estudantes, ela foi muito bem tratada pela universidade, que já havia reservado uma vaga em uma residência universitária antes mesmo de ela chegar, facilitando bastante sua adaptação.
Uma das recomendações deixadas para outros estudantes é a persistência e o foco em não desistir de concorrer a um intercâmbio. “Se você não tem condições financeiras para arcar com um intercâmbio particular, como eu não tinha, há diversas outras oportunidades de intercâmbios com bolsa, como é o caso do Ciência sem Fronteiras. ‘Mas, será que eu consigo?’ E se eu não me adaptar? Isso é muito concorrido, será que eu passo?’. Esqueça tudo isso, e faça o que tem que ser feito”, incentiva Nádia.
Se Talita e Daniel fossem dar dicas aos futuros viajantes, diriam coisas semelhantes: aproveitar ao máximo a experiência, não só academicamente, mas também no lado cultural. “Fui privilegiada com essa oportunidade e estou aproveitando o máximo que posso”, afirma Talita. Para Daniel, cada minuto dessa experiência irá fazer diferença no futuro. Então, “conheça pessoas novas, visite lugares, estude, sugue o melhor que eles tem a te oferecer”, aconselha.
Erros e acertos
Um dos pontos altos do programa, destacados pelo professor Cláudio Possani, é a possibilidade de fazer estágio durante a permanência no exterior, além de apenas desenvolver a graduação. “Está em andamento uma mudança de paradigma: estágios internacionais deixam de ser considerados ‘prêmios’ para os alunos destacados e passam a ser um elemento básico na formação de profissionais de excelência, como os que a USP procura formar”, afirma. Com esse estágio, o período da bolsa, normalmente de 12 meses, pode ser prorrogado para até 15 meses, potencializando o aprendizado.
Um ponto negativo, na opinião do docente, é a falta de uma quantidade de vagas significativa para algumas áreas das humanidades e biológicas. Ainda segundo Possani, a exclusão da área de Humanidades em geral, Artes, Direito, Administração e outras “é um equívoco”, opina. Em suas políticas próprias a USP procura compensar esta lacuna, explica o professor, acrescentando que, em 2012, a Universidade disponibilizou cerca de 1100 bolsas respeitando-se as áreas do conhecimento e o tamanho das unidades.
Inscrição no programa
O aluno da USP que quiser se inscrever no programa Ciência Sem Fronteiras precisa passar por duas etapas distintas. Além da inscrição no site do Governo Federal, ele precisa fazer a inscrição no sistema interno da USP, o Mundus.
Esse cadastramento interno será enviado para a Comissão de Relações Internacionais (CRInt) da unidade de origem do aluno. Os aprovados terão sua candidatura enviada para os gestores do Ciências sem Fronteiras para uma nova seleção. A partir daí, a responsabilidade fica toda por conta do programa. Sendo novamente aprovado, o aluno deve entregar a carta de aceitação para sua unidade na USP para finalizar o processo.
As inscrições para os intercâmbios entre julho de 2013 e julho de 2014 já estão encerradas (foram entre 27 de novembro de 2012 e 25 de janeiro de 2013) e as datas das próximas chamadas ainda não foram divulgadas.
Marco Aurélio Martins do USP Online