A iniciativa fez parte da disciplina de pós-graduação "Águas Urbanas: estudos interdisciplinares para resiliência e sustentabilidade", oferecida em parceria pelo Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) da USP, pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) e pela UFSCar. "A ideia foi transformar essas três nascentes em um estudo de caso experimental no qual pudéssemos pensar em tecnologias sustentáveis para a resolução dos problemas, propondo ações numa escala alcançável", explica Renato Anelli, professor do IAU e um dos idealizadores da disciplina.
A atividade, que mesclou visitas a campo e aulas teóricas, foi marcada por seu grande caráter multidisciplinar, afinal, participaram da iniciativa profissionais de diversas áreas, como direito, geografia, publicidade, arquitetura, biologia e engenharia. Essa mistura de conhecimento é fundamental para a gestão e o manejo de águas urbanas, que requerem visões distintas para solução de problemas complexos. "O mais interessante é que, devido à diversidade de formações dos alunos, é possível enxergar o mesmo problema de ângulos diferentes", afirma Jeferson Tavares, professor do IAU que também ministrou a disciplina.
Durante a iniciativa, que durou uma semana, foram trabalhadas questões relacionadas a planejamento, infraestrutura, espaços verdes, resiliência, gestão ambiental, técnicas de drenagem de baixo impacto, controle de enchentes e qualidade da água. Um dos desafios lançados aos participantes foi sobre o que poderia ser proposto para que as mudanças a serem feitas nas nascentes permitissem a reutilização da água para fins como, por exemplo, lavar a calçada ou irrigar uma horta comunitária. A engenheira ambiental Carolina Barbosa, uma das participantes da disciplina, contou como foi a experiência no projeto: "Cada pessoa conseguiu contribuir dentro de sua área de atuação e nós sentimos essas complementariedades. Quando pensamos que todo esse conhecimento foi voltado para a temática ambiental, tudo fica ainda mais enriquecedor", revela. Doutoranda do Departamento de Engenharia Hidráulica e Saneamento da EESC, Carolina explica que se interessou em participar da disciplina por ser uma oportunidade de trabalhar em um ambiente interdisciplinar no meio acadêmico: "Aqui nós temos mais oportunidades de explorar, pensar no futuro, projetar o que pode ser feito e visar melhorias para a comunidade".
Segundo o professor Davi Cunha da EESC, que também foi um dos ministrantes da disciplina, a área da cidade escolhida para intervenção dos alunos foi selecionada de forma oportuna, já que se trata de uma região que contribui para as enchentes que ocorrem nas redondezas do Cristo, um antigo problema que afeta os moradores de São Carlos. O docente afirma que para propor ações de melhoria no local, é preciso estabelecer estratégias que não afetem o meio ambiente e sejam pensadas de maneira mais ampla: "Não podemos olhar para a drenagem sustentável, por exemplo, apenas como uma tubulação embaixo da terra que irá coletar água da chuva para despejar em algum lugar. Precisamos ir além, pensar na qualidade da água, na paisagem e na biodiversidade".
Quem também atuou como docente da Disciplina foi a professora Renata Peres, do Departamento de Ciências Ambientais da UFSCar. Ela conta que outro motivo que levou à escolha do Córrego Mineirinho para estudo de caso foi a localização de suas nascentes: uma delas se encontra dentro da Área 2 do Campus da USP e as outras duas nos arredores da Universidade, facilitando a atuação dos estudantes e contribuindo para a implementação de atividades pelos programas de pós-graduação. Além disso, a área afetada está em expansão, permitindo que novos projetos sejam idealizados.
Os problemas encontrados nas nascentes podem acarretar sérias consequências ao município caso não sejam solucionados. Entre elas, a ocorrência de cheias, a ocupação inadequada dos arredores das nascentes, drenagem ineficiente, rompimento de tubulações, levando esgotos ao encontro de água limpa por meio de infiltrações e até mesmo estresse hídrico, cenário em que determinado local deixa de ter água quando, na verdade, deveria tê-la em abundância.
A publicitária Fernanda Siebert, que também cursou a disciplina, utilizou sua formação para pensar em uma linguagem mais adequada para a divulgação do plano de ações, de forma que ele pudesse ajudar a população a ter uma leitura mais crítica do cenário, levando conhecimento e estimulando o questionamento entre as pessoas. "Me apaixono por tudo que envolve meio ambiente, acho que por isso que a disciplina me atraiu. É muito importante abrirmos os olhos para questões que, às vezes, não estamos enxergando do nosso lugar", finaliza.
Todas as propostas de ação elaboradas ao longo da disciplina pelos estudantes poderão ser apresentadas às autoridades de São Carlos. Segundo os coordenadores da atividade, que foi finalizada na última semana de outubro, a ideia é que ela seja mantida para os próximos anos. Também integraram a lista de docentes da disciplina o professor da EESC Eduardo Mario Mendiondo e a professora Maryam Imani, da Anglia Ruskin University (ING).
Confira, abaixo, as ações propostas pelos alunos da Disciplina:
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Por Henrique Fontes da Assessoria de Comunicação do IAU
Fotos: IAU