Um projeto temático de pesquisa, realizado na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), da Universidade de São Paulo (USP), com apoio da FAPESP, constatou que a qualidade da água do manancial tem sofrido alterações significativas, causadas pelo avançado estado de degradação de alguns de seus afluentes. Isso, de acordo com os pesquisadores, pode interferir no abastecimento de água dos municípios da região.
“Observamos que a qualidade da água do manancial vem se deteriorando rapidamente, o que é um problema grave, uma vez que se trata de um reservatório estratégico para o abastecimento dos municípios da região de Sorocaba”, disse Maria do Carmo Calijuri, professora da EESC e coordenadora do projeto à Agência FAPESP.
Na pesquisa, o grupo compartimentalizou o reservatório, construído pela empresa de geração e transmissão de energia Light em 1911, e realizou coletas de amostras de água para identificar quais os organismos e compostos estão presentes no manancial.
As análises das amostras revelaram a existência de comunidades de macrófitas – plantas aquáticas indicadoras de poluição – principalmente nos braços alimentados pelos córregos do Paruru, Ressaca e Campo Verde, situados próximos aos municípios de Ibiúna e Piedade.
Segundo os pesquisadores, esses braços (desembocaduras) do reservatório recebem grande quantidade de esgoto doméstico. Dessa forma, tornam-se os maiores contribuidores para a deterioração da qualidade da água da represa, juntamente com os rios Sorocamirim e Sorocabuçu, que são os principais formadores do reservatório e também causam impactos negativos no manancial.
“A água desses braços, que é misturada e entra aos poucos no reservatório, está apresentando uma carga muito grande de poluentes. A mistura da água no corpo central e os processos naturais de depuração contribuem para a melhoria da qualidade da água da represa, como um todo. Mas alguns braços estão muito comprometidos”, disse Calijuri.
A constatação de pesquisa de que os braços do reservatório são atualmente os maiores contribuintes do estado de poluição da represa contraria a falsa percepção que havia até então de que as áreas no entorno da represa seriam as grandes responsáveis pela poluição do manancial.
Uma das margens do reservatório ainda está preservada com mata nativa. A outra margem foi ocupada por propriedades rurais, onde se cultivam verduras, milho, morango, cebola, batata e tomate, além de haver algumas áreas de pastagem.
Entretanto, segundo a pesquisa, a maior parte da carga de poluentes que entra no reservatório vem dos afluentes da represa, onde se concentram indústrias de diversos setores, além de condomínios residenciais, chácaras e casas de veraneio, que despejam esgoto in natura diretamente nos rios e córregos, sem tratamento adequado.
“A carga pesada de poluentes que entra no reservatório vem dos rios tributários da represa. Não que a carga difusa de poluentes gerados pela atividade agrícola que entra na represa não contribua para sua deterioração, mas a carga pontual de poluentes dos afluentes é que modifica muito rapidamente a qualidade da água do reservatório”, afirmou Calijuri.
Gestão integrada dos recursos hídricos
Os resultados do estudo até o momento revelam que o reservatório apresenta um estado mesotrófico – com cargas de fósforo e nitrogênio que terão implicações na qualidade da água, aumento da produtividade primária e ocorrência de florações de fitoplâncton (algas) potencialmente tóxicas, inviabilizando os múltiplos usos do reservatório.
De acordo com Calijuri, os resultados parciais do estudo, que indicam a deterioração da qualidade da água do reservatório Itupararanga, podem contribuir para a gestão integrada dos recursos hídricos da bacia hidrográfica do rio Sorocaba. “O manejo adequado das microbacias existentes contribuirá para melhorar a qualidade da água do reservatório”, disse Calijuri.
O reservatório é utilizado para abastecimento de água dos municípios de Votorantim e Sorocaba, e sua área de drenagem abrange as cidades de Alumínio, Cotia, Ibiúna, Mairinque, Piedade, São Roque, Vargem Grande Paulista e Votorantim.