Jogo de tabuleiro gera conhecimento para empresas ampliarem o negócio
25 de janeiro de 2021
Atualizado: 25 de novembro de 2022
Assessoria de Comunicação

Game desenvolvido por pesquisadores da USP, UFSCar e Universidade Técnica de Berlim auxilia os participantes a aprenderem conceitos da Indústria 4.0

Você já ouviu falar em Indústria 4.0? Conhecido como a 4ª Revolução Industrial, o conceito traz princípios, ações e estratégias de mercado que visam alavancar uma empresa por meio de sua integração às novas tendências produtivas. Para auxiliar gestores a compreenderem as principais características, tecnologias e habilidades relacionadas à Indústria 4.0, pesquisadores da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Universidade Técnica de Berlim desenvolveram um jogo de tabuleiro que ajuda os profissionais a absorverem um vasto conteúdo sobre o tema. 

O jogo desafia os participantes a alcançarem seus objetivos por meio de instrumentos da Indústria 4.0. No início da atividade, os jogadores escolhem a carta que melhor representa a meta da empresa. A cada jogada, os competidores têm a possibilidade de adquirir “capacitações”, que podem ser novas tecnologias, serviços de manutenção preventiva, acessórios da área de internet das coisas, máquinas inteligentes, funcionários especialistas em determinada área, pacotes de segurança de dados, entre outros produtos e ações que devem ser escolhidos de forma estratégica e certeira para que o plano de negócio da equipe tenha sucesso. Ao final da partida, vence quem obtiver mais pontos e conquistar os chamados “certificados de excelência”, que servem para atestar a evolução da empresa em diferentes aspectos. 

Há uma variedade de certificados que as instituições podem alcançar. Entre eles estão: o de Virtualização, que é quando a indústria é capaz de representar virtualmente e de forma interativa o trabalho que exerce; o de Descentralização, cenário em que as decisões são tomadas aliando a inteligência de computadores com as competências e habilidades dos funcionários; o de Modularidade, ocasião em que a empresa tem processos mais flexíveis, que conseguem incorporar ou substituir com maior facilidade determinado tipo de ação;  o de Capacidade em Tempo Real, que reflete a alta velocidade com a qual a companhia responde a problemas produtivos de rotina; o de Fábrica Inteligente, que é quando a empresa age autonomamente para resolver questões operacionais; entre outros. 

Com uma temática inédita no Brasil, o game pode ser jogado em cerca de quatro horas. Os cientistas criaram cartas com diferentes objetivos para abranger empresas dos mais variados segmentos. Os participantes, no entanto, não sabem quais certificados de excelência devem obter ao término do game para que suas metas sejam atingidas, o que torna o jogo ainda mais desafiador. É preciso estar atento a cada etapa, pois certas capacitações só podem ser adquiridas se a empresa tiver desenvolvido outras antecipadamente. Ao final de cada rodada, é feita uma espécie de “contabilidade” para saber quais serão as consequências para cada time de acordo com as ações que foram tomadas. Se a empresa perder pontos, ainda poderá se recuperar no decorrer da partida. 

Cerca de 15 empresas já participaram em aplicações e no refinamento do jogo, que também é aplicado em disciplinas da EESC. “O que nós temos percebido neste século 21, na era da informação, é que muitas empresas querem ser mais digital, mas têm muita dificuldade em se adaptar, além de medo de se arriscar nessa nova tendência. Com o jogo, é possível criar um ambiente psicologicamente mais seguro para que esses gestores, que muitas vezes acabam aprendendo na marra durante o dia a dia, saiam um pouco dessa pressão e mergulhem em um cenário mais lúdico, onde eles têm a possibilidade de perguntar e errar. É um ambiente muito importante para o aprendizado, explica Mateus Gerolamo, um dos idealizadores do jogo e professor do Departamento de Engenharia de Produção (SEP) da EESC. 

Mas para quem pensa que não há imprevistos no jogo, ele reserva algumas surpresas: “Durante as rodadas, alguns eventos aleatórios podem acontecer, como a invasão de hackers, crises, greves, ou seja, algo que force as empresas a terem se prevenido para essas situações, visando simular o que ocorre no mundo real. Por exemplo, pode aparecer alguma questão de cibersegurança para a empresa resolver e, se a instituição não tiver se preparado do ponto de vista tecnológico, ela perderá pontos”, revela Daniel Braatz, professor do Departamento de Engenharia de Produção (DEP) da UFSCar e um dos criadores do game. Os desenvolvedores do jogo comentam que um dos erros mais cometidos por quem deseja iniciar a adequação da empresa ao universo da Indústria 4.0 é direcionar de imediato seus investimentos apenas em tecnologia, mesmo que muitas vezes ela não tenha uma equipe apta ou uma infraestrutura básica para receber tais equipamentos.

“A Indústria 4.0 é muito abrangente, por isso nossa ideia com o jogo foi condensar esse leque e mostrar para os participantes algumas possíveis articulações de tecnologia, necessidade de formação de pessoal, tipos de estratégia, entre outros tópicos. Além disso, desmistificamos alguns pontos sobre o tema. Muitas pessoas acham que para migrar para a indústria 4.0 basta comprar um sensor ou um robô que as máquinas vão trazer todas as respostas, mas a I. 4.0 não se trata de um produto pronto, e sim de um processo”, explica Henrique Rozenfeld, um dos autores do jogo e professor do SEP. “O objetivo da empresa não é ser digital, não é ser uma indústria 4.0, mas é, por exemplo, vender produtos com mais qualidade e, para isso, precisa passar por algumas etapas”, complementa o docente. 

Os especialistas contam que, com a aplicação do jogo, as empresas voltam para casa com uma lição de casa a fazer, que é a de entender melhor quais são as tecnologias disponíveis para essa nova etapa do negócio e como elas se relacionam com os objetivos da companhia. Dessa forma, é possível rever caminhos e investir recursos de forma muito mais efetiva. Segundo os pesquisadores, o feedback dos participantes foi muito positivo, revelando um aumento da compreensão das tecnologias que abrangem a indústria 4.0 por parte dos participantes, bem como um maior alinhamento dos princípios da I 4.0 com os objetivos de cada empresa. Além disso, o divertimento foi outro ponto relatado, fator fundamental para a absorção do conteúdo. 

Quem tiver interesse em aplicar o jogo em sua empresa, basta entrar em contato pelo site do game, onde também é possível obter mais informações. O trabalho foi financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e pela German Research Foundation (DFG).

Equipe de Projeto:

EESC/USP
Henrique Rozenfeld, professor
Edson Cazarini, professor
Kleber Espôsto, professor
Mateus Gerolamo, professor
Maria Beatriz Sajovic, estudante de mestrado
Omar Chaim, estudante de doutorado
Valeria Guzman, estudante de mestrado
Lucas Portilho, servidor técnico-administrativo

UFSCAR 
Daniel Braatz, professor
Esdras Paravizo, estudante de mestrado

TU Berlim
Holger Kohl, Prof. Dr.-Ing.
Bernd Muschard, estudante de doutorado
Wolf Schliephack, estudante de doutorado


Texto: Henrique Fontes, da Assessoria de Comunicação da EESC/USP
Fotos: Equipe do Projeto Boardgame Indústria 4.0 


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