Pesquisadores da EESC-USP desenvolvem simulador de voo para estudar reações de pilotos em situações de emergência
25 de outubro de 2021
Atualizado: 02 de dezembro de 2021
Assessoria de Comunicação

Alunos do Departamento de Engenharia Aeronáutica da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP desenvolveram um novo simulador de voo, com tecnologia semelhante aos equipamentos até então importados, mas com redução de custo estimada em 90%. O equipamento tem sido utilizado para estudo de reação de pilotos aeronáuticos a situações de emergência, bem como no desenvolvimento de pesquisas na área de Fatores Humanos em Aviação.

O treinamento em simuladores faz parte do dia a dia de qualquer empresa aérea, bem como de todo piloto. “Periodicamente, normalmente a cada dois anos, eles devem realizar esse tipo de exercício, seja como preparo, seja como uma espécie de reciclagem profissional. É quando o profissional simula determinadas condições de voos e, inclusive, algumas situações de emergência, de modo que não fique ou não se sinta desabituado ao voar em certas condições ou ao agir em certas condições de emergência”, explica Jorge Henrique Bidinotto, professor do Departamento de Engenharia Aeronáutica da EESC-USP e atual coordenador do projeto desenvolvido na universidade.

O treinamento nos simuladores, de fato, é essencial. De acordo com dados do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Força Aérea Brasileira (FAB), do total de 1.210 acidentes no contexto da aviação civil brasileira registrados entre 2010 e 2019, 30,7% tiveram fatores humanos contribuintes, entre os quais julgamento de pilotagem, aplicação de comandos e supervisão gerencial.

Em razão de sua importância, toda empresa aérea é obrigada a realizar o treinamento de sua equipe de pilotos em simuladores de voo. “Para isso, elas investem na compra de seu próprio equipamento ou alugam de outras empresas, o que acarreta em mais despesas para as mesmas. Esse, inclusive, foi um dos pontos que motivaram os pesquisadores ao desenvolvimento do simulador: o barateamento, além do domínio de uma tecnologia que até então não seria possível de se obter de fabricantes nacionais”, destaca Bidinotto.

O projeto teve início na década de 2000, com o professor Eduardo Morgado Belo, já aposentado, que criou inicialmente um protótipo reduzido da plataforma de movimento, e posteriormente a estrutura que é utilizada hoje em dia. Recentemente, foi inserido o cockpit e feita a integração de software, comandos de voo e sistemas visuais, tornando o conjunto uma excelente alternativa para simulações de diversas condições de voo, já testada com pilotos de diferentes formações.

Cockpit do simulador desenvolvido no Departamento de Engenharia Aeronáutica da EESC

“O trabalho atual é desenvolver sistemas de controle de movimento que torne a sensação de pilotagem ainda mais realista”, completa o professor. “Para que um simulador de voo seja autorizado em treinamentos, ele deve passar por uma longa etapa de certificação, então temos muito trabalho pela frente. Mas, para uso em pesquisas relacionadas à segurança de voo, já temos uma ferramenta bastante robusta e operacional”.

O uso do simulador pode auxiliar no desenvolvimento de pesquisas na área de emergência aeronáutica, contribuindo para o aumento da segurança, bem como para a diminuição dos altos custos de treinamento de pilotos, “o que pode impactar positivamente na diminuição do valor de passagens aéreas no futuro, uma vez que todo esse custo é repassado de alguma forma ao consumidor”, diz Bidinotto. O equipamento também tem sido usado pelos alunos do curso de Engenharia Aeronáutica em aulas práticas de diversas disciplinas.

Simulador permite treinar diferentes condições de voo e situações de emergência

Para o professor da USP, o desenvolvimento deste simulador representa um marco importante e, mais além, pode tornar o Brasil mais competitivo nessa área. “A tecnologia empregada no simulador tem potencial para ser comercializado para empresas aeronáuticas ou linhas aéreas, que costumam comprar simuladores a custos altíssimos. Seria uma alternativa mais atrativa para elas, uma vez que esse equipamento poderia ser vendido por um preço muito mais acessível, o que nos colocaria em situação de concorrência, algo que inexistia até então”, conclui Bidinotto.

Texto: Denis Dana, para a Assessoria de Comunicação da EESC


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