Startup desenvolve material derivado de fonte renovável para substituir polímeros sintéticos
15 de março de 2022
Atualizado: 25 de novembro de 2022
Assessoria de Comunicação

Uma pesquisa desenvolvida na Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC-USP) acaba de resultar na criação de mais uma nova Deeptech, instalada na cidade. É a Nanobees, startup com foco em utilizar a pesquisa em materiais nanoestruturados de fontes renováveis e atóxicos para o desenvolvimento de novidades que possam competir, em termos de propriedades e custo, e até substituir polímeros sintéticos não biodegradáveis.

Fundada em 2021 pelo engenheiro de materiais e manufatura Gustavo de Souza, a startup tem como sua primeira linha de atuação o desenvolvimento de um filme composto por nanocelulose e ceras naturais com propriedades para conservação de alimentos próximas ao obtido por polímeros commodities, tal qual o polietileno e polipropileno. Apelidado de “papel que não molha”, o produto consegue reduzir significativamente a passagem de vapor de água e oxigênio, principais gases que provocam a deterioração dos alimentos. O material está sendo desenvolvido com o apoio da Fapesp, por meio do PIPE (Programa Inovativo em Pequenas Empresas) fase 1, que liberou um recurso de 200 mil reais para a empresa desenvolver um MVP (mínimo produto viável) em 9 meses.

“Podemos e precisamos transformar o conhecimento adquirido na universidade em inovações que tragam a todos benefícios. Nesse sentido, a Nanobees nasceu com a missão de criar alternativas viáveis para a diminuição do consumo de plástico não biodegradável no planeta, contribuindo para uma sociedade mais sustentável”, destaca Souza, que é doutor em ciência e Engenharia de Materiais pela EESC-USP, com MBA em gestão de projetos pela ESALQ, e formação de Engenheiro de Materiais e manufatura, também pela EESC-USP.

Composto por nanocelulose, “papel que não molha” integra a primeira linha de atuação da Nanobees

A nanocelulose, inclusive, pode ser considerado material estratégico para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis elaborados pela Organização das Nações Unidas (ONU), principalmente para os objetivos 9 (Indústria, inovação e infraestrutura), 12 (Consumo e produção responsáveis) e 13 (Combate às alterações climáticas). Não sem razão, estima-se que o mercado desse tipo de material deva alcançar, até 2023, 700 milhões de dólares, numa tentativa de reduzir a produção e o descarte incorreto de plásticos. Eles são responsáveis por mais de 75% do lixo marinho, de modo que a poluição dos oceanos custe ao planeta, anualmente, 2,5 trilhões de dólares. Números que mostram a urgência da pesquisa e criação de novos materiais.

Enquanto as pesquisas para o desenvolvimento do “papel que não molha” avançam, a Nanobees se prepara para participar, neste ano, do programa ATÔMICA (aceleradora de negócios para startups científicas), desenvolvido pelo Sebrae em parceria com a Wylinka. O objetivo do programa é o direcionamento estratégico e conexões para levar a startup para o próximo nível, com a estruturação e validação do modelo de negócios, buscando potenciais clientes e o aumento de sua rede de colaboradores.

Sinergia entre ensino e inovação

Para o fundador da Nanobees, “apesar de ser longo, é possível existir um caminho rumo ao ecossistema de inovação, juntando startups deeptech com ensino, dentro da universidade. A minha história, bem como da nossa startup, serve de case”.

No ano passado, Gustavo de Souza participou da primeira edição do programa Innostart, uma iniciativa do Núcleo de Empreendedorismo da USP (NEU) de São Carlos, que é apoiado pelo Centro Avançado EESC para Apoio à Inovação (EESCin) e visa auxiliar startups de base tecnológica a dar seus primeiros passos rumo a industrialização de suas inovações. “O programa trouxe rico conteúdo sobre modelo de negócios e mercados, inovação, descoberta de clientes, estratégia corporativa, propriedade intelectual, transferência de tecnologia, entre outros, nos auxiliando a entender nossa pesquisa como produto e a ideia como negócio”.

Já neste ano, Gustavo foi selecionado para participar de um processo de mentoria para jovens líderes globais, desenvolvido pela Royal Academy of Engineering, em Londres. Para esse programa, com duração de seis meses, foram selecionados 70 jovens empreendedores de mais de 10 países. No Brasil, foram selecionados nove participantes. Além do objetivo de formar novos líderes, o programa também busca aumentar a maturidade da concepção de seus negócios por parte dos inovadores, além de promover acesso a editais de fomento, busca por parceiros globais e construção de um network sólido. O programa teve início de forma online e são previstos encontros presenciais no Brasil e no Reino Unido ao longo do semestre.

“Trata-se de mais um passo importante dentro de uma trajetória que começou aqui na EESC, em 2011, quando ingressei no curso de Engenharia de Materiais e Manufatura, o que me possibilitou ter uma boa noção de materiais, processo e produto em uma visão ampla. Já num projeto de iniciação científica que recebeu o importante apoio e financiamento da FAPESP, pude me especializar por meio de um estágio na Noruega, onde tive a oportunidade de trabalhar em projetos com indústria, o que abriu minha cabeça para enxergar o impacto de projetos feitos em conjunto entre universidade e empresas e me despertou o desejo de ser pesquisador”, ressalta Souza.

Em 2017, de volta ao Brasil e ao Departamento de Engenharia de Materiais da EESC, Gustavo iniciou seu doutorado sendo orientado pelo professor Antonio José Felix de Carvalho, o Toni, com quem montou um projeto com caráter de pesquisa aplicada, tentando juntar ensaios e caracterizações laboratoriais com visão de possíveis produtos para o material atualmente em desenvolvimento.

“A estrutura e as possibilidades criadas pela Escola de Engenharia de São Carlos e seu corpo docente me permitiram uma formação ampla e com muita qualidade. As oportunidades que encontrei e abracei na escola foram de extrema importância para iniciar minha carreira como pesquisador e agora, nesse novo desafio, como empreendedor de uma área tão importante ligada ao desenvolvimento sustentável”, conclui Souza.  

Por Denis Dana, para a Assessoria de Comunicação da EESC


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