Estudo com laser baseado em materiais bidimensionais ganha destaque em importante revista científica
07 de junho de 2024
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Um dos grandes desafios da área de fotônica, que é a ciência da geração, emissão, transmissão, modulação, processamento, amplificação e detecção da luz, é conseguir fontes luminosas que sejam de fácil integração em chips de silício. Neste sentido, um grupo de pesquisadores do Departamento de Engenharia Elétrica e de Computação (SEL) da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC-USP), em parceria com as Universidades de York, na Inglaterra, e de Cornell, nos Estados Unidos, tem investido no uso de materiais bidimensionais e uma metassuperfície capaz de potencializar a luminosidade. Os achados do trabalho acabam de ser divulgados na ACS Nano, uma das principais revistas científicas da área.

Pela EESC, o professor Emiliano R. Martins e o doutorando Guilherme S. Arruda integram a equipe de pesquisa. Ao descrever mais detalhadamente o projeto, o Martins destaca os achados. Todo laser precisa de um mecanismo de captura da luz, onde ela fica circulando e ganhando energia, espaço esse chamado de cavidade. O que acontece é que, em lasers baseados em materiais bidimensionais, essa energia da luz emitida é muito pequena, o que dificulta até mesmo ter certeza se realmente é um laser. O foco do nosso trabalho foi, justamente, arrumar mecanismos que potencializassem essa emissão”.

A proposta trazida pelo grupo de pesquisadores foi utilizar metassuperfícies como cavidade. “Metassuperfícies são uma nova classe de materiais ultrafinos. Para se ter uma ideia, são cerca de mil vezes mais finos que um fio de cabelo e conseguem capturar e controlar a luz. Materiais bidimensionais, por outro lado, são ainda mais finos, com espessura consistindo em apenas algumas camadas de átomos. O exemplo mais conhecido de material bidimensional é o grafeno, mas no nosso trabalho utilizamos outro, o TMD (do inglês Transition Metal Dichalcogenides), destaca o professor da EESC. 

Metasuperfícies com ressonâncias em comprimento de ondas diferentes e coberta pelo material bidimensional - Crédito: Divulgação

Com a ajuda de uma metassuperfície de dupla ressonância, a equipe conseguiu extrair energia suficiente do laser para fazer todas as caracterizações que comprovam que é realmente um laser. “A ressonância cumpre o papel de cavidade, mas, em nosso trabalho, adicionamos uma segunda ressonância, ou seja, uma segunda cavidade para, além da luz emitida, também aprisionarmos a luz de bombeio, o que possibilitou um aumento significativo da eficiência do laser”, ressalta Martins.

A estratégia deu certo. O aumento na potência da luz foi tamanho que permitiu aos pesquisadores fazerem uma medida completa das características do laser como, por exemplo, o grau de coerência espacial, o que foi celebrado como um grande avanço obtido pela pesquisa.

Impacto dos achados para o mercado 

Para exemplificar a relevância das descobertas dos pesquisadores, Martins citou sua procura elevada nas mais diferentes áreas. “Fontes de luz como o laser baseadas nesse tipo de material são de imenso interesse tecnológico, porque são potencialmente baratas e possuem várias vantagens, entre elas a possibilidade de serem utilizadas em materiais flexíveis. Uma aplicação importante desses materiais é na nova classe de dispositivos eletrônicos que poderão ser utilizados como acessórios, podendo ser incorporados na roupa ou na pele das pessoas, as chamadas tecnologias vestíveis. Esse tipo de tecnologia deve desempenhar um importante papel em segmentos como a medicina e o entretenimento.”

O desafio foi considerado parcialmente vencido. “Com uma metassuperfície projetada capaz de aumentar a potência do laser, conseguimos encontrar uma solução simples e eficiente, que aprisiona a luz em duas frequências diferentes, uma para a cavidade onde a luz laser é criada, e outra para a energia que é capturada para tornar o material ativo, ou seja, para fazer com que ele emita luz. Agora, o que precisamos é conseguir aumentar ainda mais a potência extraída, para poder baixar o custo e facilitar ainda mais a tecnologia chegar no mercado”, afirma o professor da EESC ao revelar o que devem ser os próximos passos da pesquisa.


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