Com projeto ligado ao meio ambiente, aluna da EESC ganha Prêmio Flash Talks
Ao mostrar como a ciência e a engenharia podem atuar no maior cuidado com o meio ambiente, especialmente no tratamento de solo contaminado por uso de inseticida na agricultura, uma aluna da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC-USP) venceu o Prêmio Flash Talks, durante a realização do 31º Simpósio Internacional de Iniciação Científica e Tecnológica da USP. O trabalho é de autoria de Fernanda Oliva Pintucci, estudante do 4º ano de Engenharia Ambiental e bolsista de Iniciação Científica pela FAPESP, dedicada ao desenvolvimento de pesquisas na área de Ecotoxicologia.
A premiação, concedida pela Pró-reitoria de Pesquisa e Inovação da USP, traz todo um simbolismo, justamente diante das celebrações desse mês de junho, com o Dia Mundial do Meio Ambiente (5) e o Dia Internacional das Mulheres na Engenharia (23), mostrando não só todo o potencial feminino nessa área do conhecimento como também a contribuição fundamental da engenharia para o cuidado e preservação ambiental.
O título do trabalho que rendeu o prêmio para a aluna da EESC é “Remediação de solo contaminado com fipronil: potencial do uso do biochar como camada selante”, sob orientação de Evaldo Luiz Gaeta Espindola, professor do departamento de Hidráulica e Saneamento da Escola de Engenharia.
“A pesquisa aborda o tratamento de solo contaminado com fipronil, um inseticida muito utilizado na agricultura. Para reduzir os efeitos que esse inseticida pode causar no solo e na água, o estudo investigou o uso de biocarvão como uma camada de contenção para remedir solos contaminados”, explica Fernanda.
O biocarvão ou biochar é um material obtido a partir da pirólise de materiais vegetais, um processo de decomposição térmica com ausência de oxigênio. “Esse material é colocado em um forno hermético e sem oxigênio e aquecido a altas temperaturas, produzindo um material carbonáceo semelhante ao carvão. Nesse estudo, o material de base usado foi a palha da cana-de-açúcar”, detalha a estudante premiada.
Metodologia
Para se chegar aos achados, a metodologia envolveu a montagem de simuladores em tubos de PVC com camadas de solo e biocarvão. O solo foi contaminado com fipronil e submetido a simulações de chuva para avaliar o transporte vertical do inseticida da superfície para as camadas mais profundas do solo. Ao final da simulação, foi retirado solo da superfície e do fundo dos tubos para a realização de testes de toxicidade com o colêmbolo Proisotoma minuta, uma espécie de invertebrado do solo.
“Sabemos que o inseticida é tóxico para essa espécie, causando mortalidade e diminuição da reprodução, a depender da sua concentração no solo. Portanto, essa espécie foi usada como uma indicadora para avaliar a presença/ausência do fipronil. De forma geral, observou-se que tratamentos que receberam a camada de biocarvão tiveram maiores taxas de reprodução e sobrevivência, sobretudo na parte inferior das amostras. Vale dizer que estamos compilando todos os resultados obtidos durante o primeiro e segundo ano de Iniciação Científica, em curso, e em conjunto com uma pesquisa realizada na Universidade de Roma Tor Vergata, em Roma, na Itália”, diz Fernanda.
Ciência para todos
Para a pesquisadora e futura engenheira, o projeto recebeu o prêmio por apresentar de forma clara e concisa os objetivos da pesquisa, o método utilizado, os resultados alcançados e a relevância do estudo.
“Nas sessões de Flash Talks do simpósio, que visam estimular a comunicação científica para um público leigo, o projeto se destacou ao explicar de maneira acessível os principais pontos da pesquisa. Além disso, penso que a habilidade em transmitir informações complexas de forma simples e impactante foi fundamental para o reconhecimento do trabalho com o prêmio. Isso, sem deixar de citar a sua importância para as questões ambientais”.
Ao explorar o uso do biocarvão como uma camada selante para remediar solos contaminados com agrotóxicos como o fipronil, o estudo oferece uma estratégia promissora para o tratamento eficaz de áreas contaminadas. “Ou seja, não apenas reduz os riscos ambientais associados à contaminação do solo, mas também limita a lixiviação desses produtos químicos para as águas subterrâneas, preservando assim a qualidade dos recursos hídricos. Mais além, a pesquisa indica que o biocarvão também melhora as condições do solo e da água percolada, trazendo impactos positivos na biodiversidade local, ao promover um ambiente mais saudável para organismos do solo e para espécies aquáticas, o que contribui para a sustentabilidade ambiental a longo prazo e oferece abordagem mais segura para lidar com problemas de contaminação ambiental”, ressalta Fernanda.
Inspiração para mais engenheiras
Ao receber a certificação como prêmio durante o simpósio, a aluna da EESC destacou o fortalecimento da reputação acadêmica e científica dela, de seu grupo de pesquisa no Laboratório de Ecotoxicologia e Ecologia Aplicado (LEEA), e da instituição, além do incentivo que esse tipo de reconhecimento dá para quem se dedica às pesquisas, gerando resultados importantes para futuros projetos e estudos, em especial às mulheres.
“Nesse contexto, o Dia Internacional da Mulher na Engenharia é essencial para refletirmos sobre os desafios históricos e contemporâneos que as mulheres enfrentam nesse campo. Por isso, ao celebrar e destacar suas conquistas, reconhecemos o trabalho árduo, as contribuições significativas, e incentivamos mais mulheres a se interessarem e se envolverem na engenharia. A data representa uma oportunidade crucial para fortalecer e ampliar a presença feminina em áreas tradicionalmente dominadas por homens, promovendo um futuro mais inclusivo e igualitário para todas as engenheiras”, ressalta Fernanda.
Depois do prêmio, o trabalho segue o fluxo. Os resultados apresentados fazem parte de um projeto mais amplo que investiga diferentes contaminantes e espécies. Agora, o foco será aprofundar a revisão bibliográfica e realizar testes para estudar como os agrotóxicos interagem com o biocarvão, além de entender sua capacidade de adsorção, que ajudará a compreender como a quantidade de agrotóxicos influencia nas taxas de adsorção pelo biochar.
“Seguiremos as pesquisas, e, especialmente com esse reconhecimento, espero não apenas inspirar outras mulheres a seguirem carreiras científicas, mas também a se destacarem e prosperarem dentro da engenharia, contribuindo de forma decisiva para o avanço tecnológico, a inovação e a sustentabilidade em nossa sociedade”, conclui a aluna da EESC.