Engenharia em família
Em 11 de dezembro é celebrado o Dia do Engenheiro, data que marca a regulamentação da profissão, ocorrida no ano de 1933. E para celebrar essa ocasião especial, a Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC-USP) vai contar a história de duas famílias em que a profissão atravessou gerações, com pessoas formadas na nossa escola, misturando desenvolvimento profissional e pessoal e, claro, muito amor.
A primeira história familiar tem início com José Caurin, que hoje tem 87 anos. Nascido e criado na cidade de São Carlos, o senhor Caurin era daquelas crianças determinadas “no que queria ser quando crescesse”. Desde pequeno, dizia querer ser engenheiro.
De fato, o sonho nunca saiu de seu foco. “Terminei o curso científico em 1956, com 19 anos. Logo no ano seguinte, consegui um estágio na Petrobrás. Era o que queria, porque ali existia a possibilidade de ingressar em um curso de Engenharia nos Estados Unidos, até então patrocinado pela própria empresa”, conta José.
Contudo, justamente no ano que iniciou o estágio, a empresa cancelou o patrocínio, o que causou certa frustração para os planos que ele tinha feito. Houve mudança na rota, mas jamais no curso escolhido. Assim, José Caurin passou a se dedicar aos estudos fortemente, se preparou e, em 1959, conseguiu ingressar na USP.
“Considero que tive uma sorte muito grande com a instalação da Escola de Engenharia de São Carlos e, mais ainda, com a criação do curso de Engenharia Mecânica na EESC, onde pude realizar meu sonho de criança e me tornar engenheiro”.
José Caurin integrou uma das primeiras turmas formadas no curso. Após se formar, em 1963, dedicou-se por longos anos na carreira, inclusive como professor da Escola. Pai de dois filhos, era comum encontrá-lo acompanhado pelo campus em plena manhã de sábado, quando acontecia uma de suas aulas. A cena, aliás, ficou marcada na memória afetiva de Glauco Augusto de Paula Caurin, uma de suas crianças.
“A Engenharia e a EESC fazem parte da minha vida desde a infância. Lembro-me de acompanhar meu pai na sala B10, onde ele ministrava sua aula no curso de Engenharia Mecânica. Era comum também buscarmos ele ao final das manhãs, e isso criou memórias especiais que reforçaram minha conexão com esse ambiente desde cedo”, disse Glauco Caurin.
Para além desse acompanhamento junto ao pai, o pensamento de ter a mesma formação e seguir a mesma carreira de engenheiro também fazia parte da adolescência de Glauco. “Eu gostava muito da ideia de imaginar se seria possível transformar as coisas que víamos nos filmes de ficção científica em realidade. Também sempre tive a USP como um grande atrativo para mim e, durante o meu então colegial, hoje chamado de ensino médio, foquei na universidade como um verdadeiro sonho, realizado em 1984, quando ingressei na EESC, no curso de Engenharia Mecânica, a exemplo do meu pai, minha grande referência”, conta.
Assim como o pai, Glauco Caurin construiu uma longa e rica história com a EESC, e segue construindo. Atualmente, além de professor e chefe do Departamento de Engenharia Aeronáutica, também é vice-coordenador do Centro de Inovação da USP Complexo São Carlos (InovaUSP/SC).
“Durante minha formação e desenvolvimento profissional, experenciei tudo o que a EESC poderia dar. Um dos grandes destaques da Escola é a capacidade e a disposição de seus engenheiros e engenheiras em aprender continuamente, enfrentar o desconhecido, estudar com dedicação e se adaptar para superar os desafios do mundo real com competência e criatividade, itens essenciais para o bom exercício da carreira”, destaca Glauco.
Para ele, a Engenharia tem o poder de formar pessoas com uma compreensão profunda e crítica em um mundo cada vez mais tecnológico. “Quanto maior o nível de entendimento de uma sociedade, maior é o seu potencial de desenvolvimento. Por isso, a Engenharia se apresenta como uma força transformadora para um país, capacitando as pessoas a compreenderem melhor o mundo ao seu redor e a se adaptarem às mudanças, que ocorrem cada vez mais rápida e constantemente, especialmente quando a universidade lhe proporciona essa capacitação, como a nossa EESC”.
Mais presenças familiares
A história da família com a Engenharia e com a EESC não se restringe ao pai e filho. O sobrinho de Glauco, Gabriel Caurin Corrêa, 27 anos, não esconde a influência natural dos parentes na carreira que decidiu seguir.
“Desde pequeno, a Engenharia esteve presente na minha vida pelo meu avô e meu tio. Quando cheguei na fase de decidir uma profissão, não foi preciso pensar muito, pois sabia que aquele era o caminho que fazia mais sentido para mim”.
Ingressante no curso de Engenharia Mecatrônica na EESC, em 2016, Gabriel se formou em 2021, tendo mudado para Engenharia de Computação. “Lembro-me que toda vez que ia para São Carlos visitar a família, ora meu tio, ora meu avô mostrava algo novo, alguma curiosidade ou algo que eles estavam conduzindo em projetos dentro da universidade. Eles falavam da EESC com muita intensidade e muito carinho, o que só ajudou na minha dedicação e motivação para um dia também estudar na instituição”, destaca Gabriel.
Atuante na iniciativa privada e dentro de sua área de formação, o jovem engenheiro não tem dúvidas de que a Engenharia se apresenta como um importante pilar do desenvolvimento nacional. “A partir dela surgem inovações que mudam o mercado, mudam indústrias, com potencial de trazer investimentos para empresas nacionais, gerando riqueza ao nosso país. Trata-se de uma área profissional de imensurável valor”.
Outra integrante da família Caurin é Anne Sanflorian Pretyman, nora e ex-aluna do professor Glauco. Formada em 2020 no curso de Engenharia Mecatrônica, Anne conta que sua paixão pelas exatas a levou pelos rumos da carreira.
“Sempre me interessei por essa área do conhecimento. Sou de Goiânia e durante meu ensino médio ouvi muito sobre São Carlos ser a cidade da tecnologia. Assim, desde o meu primeiro ano dessa etapa escolar despertei meu desejo em fazer Engenharia na EESC, considerada uma das universidades mais bem conceituadas do país. O sonho se tornou realidade em 2015, quando ingressei e pude aproveitar intensamente o que esse ambiente universitário nos proporciona, seja com seus docentes, seja com seus laboratórios de pesquisa ou com inúmeras atividades extracurriculares, fornecendo uma infinidade de possibilidades para colocar o que aprendemos em prática e focar nossos interesses de desenvolvimento acadêmico.”
Para Anne, a Engenharia é considerada um curso ‘coringa’, “na medida em que ela cria uma base sólida para resolver problemas em geral, tendo o senso analítico e a capacidade de estruturação de raciocínio lógico bastante valorizados no mercado de trabalho. Também somos levados a pensar em como podemos trazer processos mais eficientes e tecnologias mais sustentáveis, algo fundamental para o momento que vivemos. Daí vem a importância de termos a EESC como centro de formação a esse tipo de profissional”.
Família EESC
A segunda história que ilustra muito bem as diferentes gerações conectadas pela Engenharia e pela formação na EESC é da família Damha.
Maria Cristina de Campos Damha ingressou no curso de Engenharia Civil no ano de 1969. “Fui inspirada por meus tios e pela vontade de saber o porquê das coisas. Acredito que meu caminho natural desde pequena foi voltado para a Engenharia Civil. Hoje, com mais de 50 anos de formada e aposentada após 42 anos de serviços contínuos prestados nessa área do conhecimento, tenho grande satisfação pessoal nessa caminhada e amizades desde a universidade e por toda a vida profissional.”
O irmão, Paulo Roberto de Campos Damha, foi aluno da turma de 1977 de Engenharia Civil, da EESC. Sua descoberta profissional começou cedo, ainda criança, com o grande interesse pelos brinquedos de montar. O desejo pela carreira só cresceu e também teve a família como modelo de inspiração: assim como a irmã, os tios engenheiros civis, Dr. Lafael Petroni, que foi professor e Diretor da EESC, e Anwar Damha, empresário no setor de construção de estradas.
“Era cercado de excelentes exemplos e meu caminho natural foi segui-los nessa linda trajetória deles. Recordo-me das conversas frequentes que tinha com meus tios a respeito das obras que eles desenvolviam à época e mesmo das mais antigas realizadas, como a construção da Catedral de São Carlos. Com minha irmã, também tive muitas conversas e muitos conselhos técnicos e toda essa troca familiar entre as diferentes gerações de engenheiros foi fundamental no meu desenvolvimento profissional”, destaca Paulo Roberto.
“Junto com a formação sólida que tive na EESC, alcancei a realização profissional na Engenharia Civil, em cada execução de obra, sabendo da minha responsabilidade e da minha parcela de contribuição ao desenvolvimento regional e nacional nesses quase 40 anos dedicados à Engenharia.”
A dedicação na vida profissional e o orgulho que tinha e demonstrava pela profissão foram contagiantes. Tanto que o sobrinho, Ivan Campos Damha Pedroso, e as filhas Letíccia Giovana Damha e Luísa Gabriela Damha, também abraçaram a Engenharia como profissão.
Ivan fez Engenharia Mecânica e se formou em 2015. “Desde criança gostava de entender o motivo das coisas funcionarem. Chegava a abrir pequenos aparelhos eletrônicos para observar seu funcionamento. Somada a essa curiosidade, tive a influência dos meus tios, que estudaram na EESC e compartilharam conosco suas experiências. Foi tudo altamente transformador. A qualidade do curso, aliada ao pensamento de engenheiro, me ajuda até hoje a saber a lidar com os desafios que surgem no decorrer da nossa jornada”.
Especialistas em solucionar problemas
Nessa árvore genealógica de engenheiros, faltou falar das filhas de Paulo. A primeira a ingressar na EESC foi Letíccia, em 2015, no curso de Engenharia de Produção. A irmã Luísa entrou dois anos depois, em Engenharia de Computação, transferindo-se mais tarde para a Engenharia Mecatrônica, onde se formou recentemente.
“A engenharia se fez presente na minha vida pela profissão do meu pai e se tornou um interesse à medida que avançava nos estudos e desenvolvia o gosto pelas disciplinas de exatas. Já no ensino médio, pareceu natural me dedicar ao ingresso em um curso renomado de Engenharia. A opção pela EESC teve influência do meu pai, que sempre a destacava e por ela sempre teve muito carinho”, conta Letíccia.
O caminho da Luísa, a irmã mais nova, foi semelhante. “Desde pequena era boa com números. Gostava e tinha facilidade em disciplinas como matemática, física e química. Quando fui para o ensino médio, já sabia que faria Engenharia, ainda mais estimulada pela vida profissional do pai e pela escolha da minha irmã. Foi igualmente natural a opção pela EESC como a minha universidade.”
Apesar de se formarem em distintos cursos de graduação, as irmãs Letíccia e Luísa fazem coro quando destacam a alta capacidade de solucionar problemas inerente à Engenharia.
“O fato de a Engenharia ensinar uma base muito boa de raciocínio lógico, de atenção aos detalhes e de busca por métodos para a resolução de problemas faz com que ela seja essencial para o desenvolvimento do país, nas mais diversas áreas. Assim, estudar e me formar Engenheira na EESC me fizeram desenvolver essa base de raciocínio e de pensamento analítico, virtudes que extrapolam a vida profissional e também são valiosas na vida pessoal”, ressalta Luísa. “O conhecimento e as habilidades adquiridas durante o curso me tornaram uma pessoa voltada à solução e ao resultado, com pensamento ágil para responder aos desafios do dia a dia. Como pessoa, o convívio na Escola expandiu meus horizontes e ajudou a moldar meu caráter, o que dá ainda mais orgulho da profissão”, complementa a irmã Letíccia.
Ao relembrarem as experiências vividas na universidade, as irmãs – sem combinarem as respostas – novamente convergem acerca das oportunidades construtivas viabilizadas na e pela Escola.
“O ambiente da universidade é muito fértil para o desenvolvimento pessoal e profissional. É o momento em que começamos a entender que o mundo é muito mais extenso do que aquele que conhecíamos até então”, reflete Letíccia.
“Os anos de faculdade são de extrema importância na criação do nosso caráter e do nosso futuro como um todo. Eles vêm repletos de oportunidades tanto nas disciplinas obrigatórias e eletivas, quanto nos grupos extracurriculares, iniciação científica, oportunidade de intercâmbio fora do país, etc. Tudo é válido e quanto mais experiências diversas viabilizadas num ambiente como a EESC, melhor, enfatiza Luísa.
Texto: Denis Dana (Ex-libris) para a Assessoria de Comunicação