População de Foz do Iguaçu não considera Itaipu segura
O geógrafo Érico Soriano entrevistou 112 habitantes das diversas localidades, faixas etárias e camadas sociais da cidade, buscando identificar o que a população considera como possibilidade de risco. A pesquisa de doutorado Confiança, incertezas e discursos sobre os riscos de colapso de barragem na UHE Itaipu Binacional: o processo de vulnerabilização dos moradores a jusanteteve a orientação da professora Norma Valencio. Também fizeram parte do trabalho entrevistas com representantes oficiais tanto da barragem quanto de órgãos de segurança pública do município, como a Defesa Civil e a Polícia Federal.
“A barragem é muito segura, embora não haja nenhuma obra de engenharia 100% segura. Mesmo assim, a população tem em seu imaginário que a barragem de Itaipu pode romper”, conta Soriano. Um dos motivos da desconfiança, segundo ele, é a ausência de diálogo das autoridades públicas locais e dos representantes da usina com a comunidade ali residente, principalmente relacionado à segurança da barragem. O estudo aponta que 100% das respostas foram negativas quanto a este assunto.
O discurso oficial, registrado a partir das entrevistas, apesar de afirmar a segurança da barragem, admite a existência de alguns riscos decorrentes inclusive de limitações estruturais, porém também transparece a pouca divulgação e orientação da sociedade a seu respeito. A afirmação de que a barragem é segura e que os riscos estão sob controle, esclarece Soriano, faz parte de uma cultura que busca convencer a sociedade da representação de sua eficiência e infalibilidade a partir de uma série de práticas de poder. O fechamento ao debate, porém, traz efeito contrário ao desejado pelas autoridades. “A não divulgação é um problema, pois aumenta as discussões sobre os riscos e o medo da população”, explica.
Desta forma, a confiança da população nos órgãos oficiais vê-se quebrada, o que aumenta suas incertezas mesmo que os riscos não sejam de fato significativos. Soriano explica que este processo de ocultação de perigos, bem como a falta de orientação quanto a eles, culminam na vulnerabilização dos moradores de Foz do Iguaçu. “A vulnerabilização também está em função da ausência, tanto da empresa quanto do Estado, de criar medidas, políticas e ações verdadeiramente em conjunto com a população para diminuir os riscos”, diz.
Terrorismo
Além do próprio risco de rompimento, muito relacionado a eventos climáticos críticos, como aumento no volume de chuvas que poderiam, teoricamente, gerar algum colapso na estrutura da barragem, os entrevistados também apontaram outros tipos de perigo. Um dos mais destacados foi o terrorismo, demonstrado em 22% das respostas. “Embora, considerando a Itaipu Binacional e o contexto brasileiro, seja quase zero o risco de um atentado terrorista, esta foi uma das afirmações que a população mais fez sobre o risco da barragem”, informa o geógrafo.
O estudioso relata que esse medo de ações terroristas foi despertado especialmente após os atentados terroristas ao World Trade Center em 2001. Neste sentido, ele explica, os moradores teriam sido influenciados pela imprensa, que na época especulava sobre a existência de células terroristas entre a população árabe de crença muçulmana residente na região da tríplice fronteira. “Mas não fica apenas na representação da população. A única vez que a usina fechou as portas para visitação foi logo após os atentados terroristas em 11 de setembro de 2001”, relembra. Apesar disso, não há uma preocupação e associação direta entre o terrorismo e a comunidade muçulmana local, já adepta e incluída no cotidiano do município.
Contudo, Soriano ressalta que apesar da crença da população de Foz do Iguaçu na existência de riscos de rompimento da barragem, a Itaipu Binacional, ainda assim, possui uma imagem positiva entre os habitantes, relacionada especialmente ao progresso econômico que proporciona e à sua presença em ações no município ligadas à cultura. Assim, para o pesquisador, essa relação com a comunidade local também precisa ser levada ao campo das discussões e orientações sobre perigos e medidas para reduzi-los, o que seria essencial para tornar essa população menos vulnerável.
Bruna Romão / Agência USP de Notícias
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