Três noites de muita diversão e ciência: festival reúne mais de 400 participantes em São Carlos
22 de maio de 2015
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Interação com o público marcou debate sobre robótica no último dia do festival

 

Enquanto isso, outra discussão científica era travada a menos de um quilômetro dali, em frente à praça XV de Novembro. "Inovação é gerar novas ideias, invenções e avanços tecnológicos. Além disso, esse conceito também está ligado à ideia de promovermos a melhoria de processos, de produtos e de serviços”, explicava o professor Francisco Louzada, do ICMC, no debate sobre inovação e ciências matemáticas.

 

Permitir que a ciência se misture a esse ambiente descontraído das mesas de bares e restaurantes e provoque novos questionamentos, emoções e reações imprevisíveis. Esse é o principal objetivo do festival internacional Pint of Science. O primeiro laboratório da América Latina para a realização dessa experiência coletiva foi a cidade de São Carlos. Entre as descobertas ocorridas nesse processo, registradas no campo “críticas e sugestões” do folheto de avaliação do evento, um comentário prevalece: o público quer mais iniciativas como essas.

 

O doutorando da UFSCar Cesar Antonio Alves da Rocha aprovou o festival. Ele já tinha ouvido falar sobre o Pint of Science, pois tem um amigo que estuda no exterior e que participou de edições anteriores do evento. “Quando fiquei sabendo que ia acontecer em São Carlos, quis logo participar para ver como seria”, contou. “Uma das sugestões que fiz é de convidar pesquisadores de áreas diferentes do conhecimento, com visões mais díspares, pois quanto mais dissenso, melhor para fazer o público refletir”, concluiu.

 

Já o pós-doutorando Rodrigo Miranda, da USP em Ribeirão de Preto, comentou que não conhecia o evento e gostou muito do fato de São Carlos ser a primeira cidade da América Latina a sediá-lo: “Adorei a parte em que aconteceu o debate entre o público e os convidados”.

 

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Osório (terceiro da esquerda para a direira) com os convidados para o debate sobre robótica e sociedade

O papo é robótica e sociedade – No debate sobre os impactos da robótica na sociedade, Osório admitiu: “Eu tenho medo de robô mal programado. Se um braço robótico industrial me acertar em uma fábrica, ele sequer vai saber que me atacou”. Ele completou: “Quem conhece um robô que respeita uma bandeira branca? A câmera térmica de um robô não é capaz de reconhecer isso. Ou seja, os humanos estão criando robôs incapazes de respeitar o direito de rendição em uma guerra”.

 

Na opinião do professor do ICMC, que é coordenador da Comissão Especial de Robótica da Sociedade Brasileira de Computação, é preciso criar condições e leis que tornem possível à sociedade responsabilizar os culpados pelas ações dos robôs. “No caso de um acidente com um carro autônomo (que se locomove sem motorista), os sensores presentes no veículo devem ser capazes de identificar se a pessoa se jogou na frente do carro intencionalmente ou se foi o freio que não foi acionado por um defeito de fabricação”, exemplificou Osório.

 

Entre os diversos convidados para o bate-papo estava o professor Fábio Ramos, da Universidade de Sydney, na Austrália. “A robótica está revolucionando a medicina. Em breve, vamos engolir robôs em formato de pílulas que vão se mexer dentro da gente e nos filmar para ver o que está acontecendo lá dentro. Só não me pergunte como eles serão recuperados”, brincou Ramos.

 

Entre as questões polêmicas debatidas estava o impacto da automação e o possível aumento do desemprego. “Há vários aspectos que não são levados em conta quando discutimos essa questão. Não dá para negar que, com o avanço da robótica e da automação, há um deslocamento do emprego. Mas também precisamos levar em conta que a automação está salvando o mundo em relação à produção de alimentos”, ponderou.

 

Para o pesquisador Heber de Carvalho, que é professor do Centro Universitário de Araraquara (UNIARA) e da Universidade Anhanguera, a tecnologia poderá tornar o mundo mais sustentável e reduzir o impacto do consumo. “Com as impressoras 3D entraremos em um processo de customização em massa. Não vamos mais depender de uma linha de produção para fabricarmos os produtos de que necessitamos. Se precisarmos de camisetas, elas serão feitas sob medida, sem defeitos, e na quantidade exata, sem desperdício”, disse Carvalho.

 

A professora do ICMC Roseli Romero lembrou ainda o papel fundamental dos robôs na realização de atividades perigosas para os humanos e a busca pelo desenvolvimento de robôs capazes de interagir de modo cada vez mais natural com as pessoas. Roseli é vice-coordenadora do Centro de Robótica de São Carlos (CROB), que é sediado na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC).

 

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Louzada (ao centro) com os convidados para o debate sobre inovação e ciências matemáticas

O papo é inovação em ciências matemáticas – "As ciências matemáticas estão presentes em diversas tarefas do nosso dia a dia e não é diferente no cotidiano das empresas. Um levantamento mostrou que as companhias que alcançaram altos níveis de desenvolvimento tecnológico promovem a aplicação das ciências matemáticas como ferramenta e estão localizadas nos países mais desenvolvidos", contou o professor Louzada no debate sobre a inovação em ciências matemáticas.

 

Louzada é coordenador de transferência tecnológica do Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) financiados pela FAPESP. Durante o bate-papo, ele apresentou alguns dos cerca de 50 projetos que estão sendo realizados pelo Centro em parceira com mais de 30 empresas.

 

“Ninguém se lembra de que o celular só funciona porque existem alguns teoremas e que a maioria das inter-relações de seguros e empréstimos só funcionam porque existem as ciências matemáticas. Aliás, nenhuma sociedade se desenvolveu sem levar isso em conta. Para sermos um país em desenvolvimento, teremos que passar pela matemática como uma ferramenta de produção”, defendeu o professor José Alberto Cuminato, que é professor do ICMC e presidente do CeMEAI.

 

O sócio e diretor científico da empresa DNA Consult Genética e Biotecnologia, Euclides Matheucci Junior, deu o próprio exemplo para ilustrar a relevância da matemática. “Eu trabalho com uma tecnologia nova, que é genômica. Alguns anos atrás, eu tirava o sangue, tratava os dados e emitia um laudo. Hoje é impossível fazer isso porque muitos dados são gerados. Por isso, preciso de uma matemática robusta para me ajudar”, finalizou.

 

Sobre o Pint of Science – No Brasil, o Pint of Science foi realizado pelo ICMC e contou com o apoio dos restaurantes Mosaico e Espaço Sete, da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), do Núcleo de Apoio ao Software Livre (NAPSoL), do CeMEAI, do projeto Contribuinte da Cultura e da Oz Produtora.

Texto: Denise Casatti – Assessoria de Comunicação do ICMC/USPCom o apoio de Keite Marques (Assessoria de Comunicação da EESC) e Carla Monte Rey (Assessoria CeMEAI)

Fotos: Reinaldo Mizutani (inovação e ciências matemáticas) e Paulo Arias (robótica e sociedade)


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