Aquaponia: uma estratégia para educação ambiental
28 de junho de 2021
Atualizado: 07 de julho de 2021
Assessoria de Comunicação

Criada para alertar a sociedade sobre a importância de preservação dos recursos naturais, foi comemorada no início deste mês a Semana Mundial do Meio Ambiente.

Com 7,8 bilhões de habitantes, o planeta enfrenta inúmeros desafios como escassez de água, mudanças climáticas, fome e pobreza que precisam ser enfrentados agora se quisermos um futuro melhor para as próximas gerações. Uma das atividades promovidas nesse sentido foi a abertura do curso de extensão “A Aquaponia como ferramenta de ensino e sustentabilidade nas Escolas”.

O curso é uma iniciativa do Programa de Pós-graduação em Rede Nacional para o
Ensino das Ciências Ambientais (PROFCIAMB), o qual a USP integra por meio da Escola de Engenharia de São Carlos, em parceria com a Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. Seu objetivo é trabalhar metodologias de ensino para os ambientes participativos, levando para dentro dos espaços de ensino formal e não formal o debate sobre sustentabilidade e a discussão sobre o nexo alimentação-água-energia.

Crédito: Divulgação PROFCIAMB

A aquaponia tem se mostrado uma ferramenta interessante para essa discussão
porque consiste de um sistema simbiótico que combina a criação de animais aquáticos como peixes e camarões (aquicultura) com a hidroponia, que é o cultivo de plantas fora do solo. Como a água da aquicultura é fonte de nutrientes essenciais para o crescimento das plantas – oriundos dos restos de ração e dejetos animais – ela é utilizada para alimentar a produção hidropônica com a ajuda de bactérias específicas que quebram esses subprodutos. Depois de limpa, essa água é recirculada de volta ao sistema da aquicultura e o processo inicia-se mais uma vez.
“A aquaponia trabalha com a água, que é um dos elementos transversais do ensino do desenvolvimento sustentável e fundamental para a sobrevivência de todas as espécies.

Trabalha também com o conceito de circularidade, com a alimentação, e a questão da fome é algo que aflige o mundo todo”, explica o professor Tadeu Malheiros, um dos docentes do curso, acrescentando que a aquaponia pode ser uma estratégia
interessante para geração de renda.

Para se ter uma ideia, dados de 2019 do Sistema Nacional de Informações de
Saneamento (SNIS) apontam que apenas 83,7% da população brasileira têm acesso a rede de água e um número ainda menor, de 54,1%, possuem coleta de esgoto
sanitário em suas regiões. Por outro lado, em 2020 mais de cem milhões de brasileiros – metade da nossa população – viviam em condição de “insegurança alimentar”, de acordo com a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar, um aumento de 54% em relação aos números de 2018.

Tais fatores chamam a atenção para a urgência de capacitar os educadores para
lidarem com os desafios impostos pelos impactos ao meio ambiente e que são
amplificados pela desigualdade social, além de crises como a pandemia de Covid-19.

“Na pandemia a gente teve um aumento no número de pessoas que entraram em
pobreza e em condições de fome. Então a aquaponia, se bem estruturada, junto com interfaces de hortas urbanas e rurais, são estratégias interessantes para aliviar o sofrimento da população. Mas a gente não enxerga que ela é só uma questão
alimentar e sim uma questão social mais ampla dessa população dentro do  espaço”, esclarece Tadeu.

Um exemplo disso foi a implantação, em 2017, de um sistema de aquaponia no Sítio São João, uma unidade de produção agrícola localizada às margens do Ribeirão do Feijão, em São Carlos. O sítio é um exemplo de propriedade rural produtiva e ambientalmente correta que funciona como área piloto de restauração florestal, educação ambiental e tecnologias agrícolas para saneamento ambiental. E desde então, estudos em escala real de produção vêm sendo realizados para desenvolver o melhor arranjo do sistema, garantindo a viabilidade financeira e a replicabilidade para outras propriedades de agricultura familiar na região.

Crédito: Divulgação PROFCIAMB


Por Paula Penedo P. de Carvalho
jornalista do Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais


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